O desempenho do Bayer Leverkusen, na temporada 2023/24, sob o comando de Xabi Alonso, vem sendo absolutamente espantoso.
Aqui, abordaremos os fatores que têm contribuído para o sucesso da equipe alemã, até aqui.
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O caminho do comandante: Xabi Alonso
Todos do mundo do futebol conhecem a figura de Xabi Alonso.
Para aqueles que são um pouco mais jovens e talvez não estejam familiarizados com seu currículo futebolístico, aqui vão algumas informações.
Alonso jogou como volante durante sua carreira. Era um exímio jogador de sua posição, sempre muito elogiado por seus técnicos em diversos campos, sobretudo em três aspectos principais: posicionamento, técnica e liderança.
O meio campista teve uma carreira assombrosa. Formado pelas categorias de base da Real Sociedad, ele foi comprado por €16 milhões pelo Liverpool, em 2004.
Lá, sob o comando de Rafa Benítez, foi campeão da Champions League, na final histórica contra o Milan.
Ficou na Inglaterra até 2009, quando se juntou a mais uma geração de Galácticos do Real Madrid, ao ser comprado por €35 milhões.
Viveu anos de conquistas na Espanha. Em 2014, à pedido de Pep Guardiola, o Bayern de Munique o comprou por €9 milhões. Como de costume em sua carreira, foi muito vitorioso e finalizou sua participação profissional na Alemanha, em 2017.
Isto sem contar seu papel fundamental à frente de uma das maiores gerações de seleções nacionais da história. Com a camisa da Fúria, foi bicampeão da Eurocopa e campeão da Copa do Mundo.
O que nem todos sabem é que Xabi Alonso cresceu no ambiente do futebol.
Seu pai, Periko Alonso, assim como seu filho, foi jogador da Real Sociedad nos anos 70. Jogou também pelo Barcelona, nos anos 80.
Passada sua carreira como atleta, foi também treinador, com passagem, novamente, pela Real Sociedad.
Logo, esta é uma herança que não se pode apagar. Sem dúvida, desde seu desenvolvimento como jogador na infância, Xabi era orientado por seu pai à observar espaços e entender a dinâmica do jogo, pontos tão importantes que ele carrega até os dias de hoje.
De vez em quando precisamos reconhecer que sorte e talento andam lado a lado.
O volante teve uma carreira absurdamente privilegiada quando o assunto eram técnicos que o comandaram.
Ele chega ao Liverpool comandado por Rafa Benítez, que tem um estilo de jogo reativo, muitas vezes se desfazendo da bola e aplicando a transição em velocidade. Xabi era fundamental neste esquema marcar e orientar a proteção da área, bem como verticalizar os passes no momento da recuperação da bola. – conceitos apreendidos por ele que veremos mais adiante.
Em seguida, chegou ao Real Madrid para ser treinado por José Mourinho. O treinador português dispensa apresentações, principalmente quando o assunto é visualizar esquemas de jogo que favoreçam características específicas dos jogadores de seu elenco. Ainda, um técnico que prima pela dedicação e intensidade independente da posse de bola, impondo liderança e ganhando o respeito de seus atletas. – conceitos apreendidos por ele que veremos mais adiante.
Imagem: Reprodução Mais Futebol
Por fim, aquele que é considerado um dos maiores, se não, o maior técnico da história do futebol, Pep Guardiola. Com o compatriota, Xabi aprendeu e desempenhou com maestria os conceitos do futebol posicional e as necessidades para se desenvolver um sistema de troca de passes para encontrar espaços numa fração de segundo.
Isto sem contar os ensinamentos do grande Vicente del Bosque na Seleção da Espanha.
Iniciou sua carreira como treinador nas categorias de base do Real Madrid. Nada mal. Ficou lá como uma espécie de estágio, por apenas um ano.
Em 2019, assume o Real Sociedad B, o popular Sanse, que disputa a terceira divisão do Campeonato Espanhol. Foram 90 jogos no comando da equipe, com 40 vitórias, 23 empates e 35 derrotas.
Quando assumiu a equipe, o Sanse estava na terceira divisão de Liga Espanhol. Com Xabi, conseguiram o acesso para La Liga B, na temporada 2021/22.
Entretanto a equipe não conseguiu manter o bom ritmo e acabou a competição na 20ª colocação, sendo devolvido à terceira divisão.
Na temporada atual, já sem Xabi Alonso há 18 meses, estão em quarto lugar do grupo A da terceira divisão, elegíveis para os playoffs de acesso.
Isto é uma prova de que, no futebol, ousadia e projeto são fundamentais. O Bayer Leverkusen queria um fato novo. A aposta foi um técnico que sequer conseguiu se manter na segunda divisão espanhola. Mas que tinha ideias, liderança e um estilo de jogo.
A aposta já foi ganha na temporada de chegada. Ele chega em outubro de 2022 na cidade de Leverkusen, para dirigir o time local.
Alonso substituía o técnico Gerardo Seoane, que não vinha tendo bons resultados com a equipe.
De cara, Xabi começou a implementar seu estilo de jogo, com foco em jogadores jovens, que formam a maioria da base do time.
O resultado final foi um ótimo 6º lugar na Bundesliga, classificação para Europa League e a esperança de um 2023/24 iluminado.
Imagem: AFP
A temporada 2023/24 do Bayer Leverkusen
Formação da equipe
Para a temporada 2023/24, o Leverkusen perdeu jogadores importantes e muito promissores. Sobretudo o holandês Bakker, vendido à Atalanta por €10 milhões, e Moussa Diaby, comprado pelo Aston Villa por €55 milhões.
Com caixa, a equipe alemã, seu treinador e departamento de scouting fizeram um trabalho espetacular.
Buscaram três jogadores jovens com bastante perspectiva de futuro: Tella, do Southampton; Boniface, do Union SG e Arthur, do América-MG.
Os dois primeiros tiveram sucesso instantâneo, principalmente Boniface. O centroavante fez uma temporada passada sensacional pela equipe belga, com um ótimo desempenho na Europa League. Ele se encaixou como uma luva no sistema de Xabi Alonso.
Para mesclar com os jovens, trouxe a experiência de Xhaka, Grimaldo e Hofmann. A sinergia entre os reforços e remanescentes foi impressionante.
A equipe tem uma formação original baseada no 5-2-3. Incomum, não é mesmo?
O trio de zaga vem formado por Kossounou, Tah (centralizado) e Tapsoba. Nas laterais, as improváveis “estrelas” do time, Frimpong e Grimaldo.
No meio, a dupla de volantes, Palacios e Xhaka. Na frente, os falsos extremos Wirtz e Hofmann, terminando com Boniface como centroavante.
Apesar desta equipe ser considerada a titular, Xabi promove grande rotação dentro do elenco, aproveitando muitos jogadores e os dando minutagem considerável, distribuídos principalmente entre jogos de copas, tanto nacionais quanto internacionais.
E os ditos reservas tem se saído tão bem quanto os titulares. Jogadores como Tella, Adli e Hlozek são nomes marcantes desta rotação entre copas e ligas. Mesmo com estilo de jogo complexo do treinador, eles e toda a equipe conseguiram entender bem os mecanismos pedidos.
Desta forma, o Leverkusen foi a única equipe a finalizar a fase de grupos da Europa League com 100% de aproveitamento.
Imagem: DFL
Variação tática e estilo de jogo
Podemos dizer, com tranquilidade, que Xabi Alosno está revolucionando o futebol.
Usar a palavra revolucionar pode causar estranheza, mas a utilizamos no sentido de trazer algo novo, jamais antes visto, de uma maneira extremamente inovadora.
Conforme mencionado, o time é armado num 5-2-3, um esquema bastante atípico, sobretudo na era do eterno 4-3-3.
Atacando, o intuito claro de Alonso é alargar o campo o máximo possível. Para tanto, ele dá atribuições bastante específicas aos laterais, que atingem um protagonismo único no esquema do time.
O mais impressionante é que, nos últimos tempos, a posição de lateral foi negligenciada, fadando os jogadores da posição a exercerem papéis monótonos, fazendo com que o setor do campo, como um todo, passasse por uma carência geral.
Desta forma, Frimpong e Grimaldo, juntos de Wirtz e Hofmann, são abertos em suas respectivas alas, fazendo com que o adversário descompacte seu meio de campo para atender as demandas vindas das pontas.
Quando isto é feito, há espaço no meio campo e entrada da área para que Xhaka e Palacios possam agir. Quando acionados, não tem apenas o centroavante, Boniface, para servir, mas também os extremos e os laterais.
Ou seja, Grimaldo e Frimpong participam de quase todas as ações da equipe. Por esta razão, eles possuem respectivamente, 9 gols e 7 assistências, e 7 gols e 9 assistências.
Estes números são assombrosos. Laterais de alto escalão europeu passam carreiras inteiras com participações em gols inferiores aos números deles nesta temporada, que sequer está na metade.
Outros aspectos muito interessantes são as marcas dos técnicos que treinaram Alonso no decorrer de sua carreira. O alargamento do campo requer muita noção e disciplina posicional, adquiridos com Guardiola.
Por outro lado, ele preza demais pela consistência defensiva. Na atual temporada, em 24 jogos, o Leverkusen possui 77 gols feitos e apenas 18 tomados.
Para evitar a exposição do sistema defensivo, o bloco da equipe, baixo, médio ou alto, é sempre muito compacto. Mas não só isso, ele inova mais uma vez.
Quando adianta a marcação na saída de bola do adversário, ele espelha a marcação do laterais. Ou seja, Grimaldo e Fripong, ao invés de esperarem a marcação na linha de seus zagueiros, superam a linha de seus próprios atacantes, marcando os laterais adversários.
Desta maneira, a equipe consegue a superioridade numérica na marcação e, se recuperada, haverá superioridade numérica também no ataque. Uma marca esplêndida de compactação, marcação e intensidade, aprendidas na escola José Mourinho.
Atualmente, o Leverkusen é líder da Bundesliga, com 39 pontos, seguido do Bayern de Munique, com 35, mas com um jogo a menos.
Acreditam que o Leverkusen conseguirá faturar o seu tão sonhado título de Bundesliga? E da Europa League? E de Pokal? Eles estão vivos e protagonizando todas as competições.
Imagem: Reprodução The Athletic
Escrito por Vitor F L Miller.