Conheça o que é a Operação Penalidade Máxima e o que ela investiga no Brasil. No momento, está sendo apurada a possível manipulação de jogos dos campeonatos estaduais e até mesmo da Série A do Brasileirão. Confira!
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Apostas no Brasil
As apostas sempre fizeram parte do cotidiano do povo brasileiro. Na década de 1930, o então Presidente Getúlio Vargas trouxe ao Brasil casas de entretenimento, como os cassinos, por exemplo. Em pouco tempo, as apostas nestes ambientes se tornaram extremamente populares, mas foram subitamente barradas em 1946.
Eurico Dutra, o presidente da época, tinha uma linha política que se voltava exclusivamente a atender aos interesses norte americanos. Deste modo, para sinalizar que o Brasil se tratava de um país de valores fortes, bem como para não rivalizar com a indústria do entretenimento estadunidense que surgia, proibiu todos os jogos de azar por meio de um decreto.
Desta maneira, apenas em 1961, os jogos de azar foram legalizados pela União, sendo responsabilidade da loteria federal e regulamentados pelo Estado.
Claro, muitas operações clandestinas perduraram e ainda perduram quando se trata de jogos de azar. Contudo, estamos aqui para relatar as apostas relacionadas aos esportes, sobretudo o futebol.
Em 2018, o Presidente Michel Temer chancelou a lei n º 13.756, a qual regulariza as apostas esportivas, desde que possuam uma quota fixa. Isto é, aquelas que apresentam as “odds” (coeficiente multiplicador da aposta), antes que a aposta seja realizada.
Desta forma, é preciso ressaltar que tais empresas que desejam atuar neste segmento devem estar sediadas em países nos quais a existência de casas de apostas seja totalmente legalizada, ou seja, fora do território brasileiro.
De 2018 aos dias de hoje, tal prática se tornou febre entre os brasileiros. As casas de apostas atingem números muito expressivos de clientes, gerando para si lucros considerados absurdos, mas não só isto. Criou para um grupo de pessoas uma forma de ganhar a vida.
Portanto, criaram-se ramificações de mercado oriundas das apostas esportivas. Hoje, ao ligar a televisão em um canal de esportes brasileiro perceberá que a grande maioria das propagandas são de casas de apostas. Alguns dos maiores clubes do Brasil como Santos, Fluminense, São Paulo, Vasco da Gama, Bahia, Atlético Mineiro e outros, estampam casas de apostas em suas camisas.
Também podemos observar, em um breve passeio pela internet, a existência de cursos, dicas e tantos outros meios para se dar bem neste ramo.
Logo, era de se esperar que um mercado recém criado, com pouca ou sem qualquer regulamentação, geraria uma série de incertezas e incidentes.
A Máfia do Apito, 2005
Esquemas de manipulação de resultados não são novidades no Brasil. No ano de 2005, o jornalista André Rizek denunciou um esquema de corrupção entre apostadores e árbitros.
Repare que no ano de 2005 as apostas esportivas eram totalmente criminalizadas no Brasil, razão pela qual não existiam casas de apostas de natureza legal. Mas isto não foi impeditivo para que se formasse um esquema entre apostadores clandestinos e árbitros de futebol.
Naquela ocasião, o ex árbitro Edilson Pereira de Carvalho foi preso, sendo apenas um dos desdobramentos da operação. Chegou-se ao acordo de que os jogos apitados pelos juízes sob investigação deveriam ser realizados novamente. Assim, o Corinthians, que terminaria 1 ponto atrás do Internacional e seria vice-campeão, conseguiu vencer os jogos reagendados e se sagrou campeão daquele ano.
Este foi um dos eventos mais polêmicos da história do esporte brasileiro. Inclusive porque o jogo entre Corinthians e Internacional que decidiu o campeonato teve uma das arbitragens mais duvidosas já vistas e o jogo acabou 1×1. Consequentemente, este campeonato foi considerado por muitos “manchado”.
Se tamanha confusão já ocorreu com as casas de apostas totalmente proibidas, imaginem o terreno fértil encontrado agora que elas detém um poder tão grande sobre futebol brasileiro.
Operação Penalidade Máxima
A Operação Penalidade Máxima foi divida em duas partes. A primeira delas teve início em fevereiro de 2023 e investigava apenas jogos da Série B de 2022.
O jogador Romário, do Vila Nova de Goiás teria admitido ter sido procurado por um grupo na tentativa de aliciá-lo para o esquema criminoso. Desta forma, as investigações e trâmites judiciais foram iniciados pelo estado de Goiás, chefiados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), pela Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), bem como o Ministério Público de Goiás (MPGO).
As investigações evoluíram e os responsáveis concluíram que aparenta se tratar de um esquema nacional, razão pela qual foram expedidos mandados de prisão preventiva e busca e apreensão em 6 estados da federação, dando início à segunda fase da operação.
Até o momento, foi apurado que o suposto esquema teria afetado não apenas jogos da Série B de 2022, mas também da Série A e dos campeonatos estaduais de 2023, sendo eles:
- Santos x Avaí
- Bragantino x América-MG
- Goias x Juventude
- Cuiabá x Palmeiras
- Santos x Botafogo
- Palmeiras x Juventude
Ademais, os jogadores que estariam envolvidos e sob investigação são Eduardo Bauermann (Santos), Kevin Lomonaco️️️ (Red Bull Bragantino), Victor Ramos (Chapecoense), Igor Cariús (Sport Recife) e Gabriel Tota (Juventude). Estes jogadores teriam recebido valores entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para tomarem cartões amarelos ou vermelhos.
Alguns dos clubes que teriam atletas envolvidos emitiram notas oficiais em suas redes sociais, alegando que se colocam à disposição da justiça para que os casos sejam esclarecidos o mais rápido possível.
Esporte, apostas e crime
A Operação Penalidade Máxima mostra semelhanças e diferenças com a Máfia do Apito.
Entre as diferenças está o fato de que desta vez os alvos não são os juízes, mas sim os jogadores. Ainda, os eventos a serem alterados artificialmente são questões corriqueiras nos jogos, como cartões amarelos e escanteios, o que não necessariamente afeta o resultado de partidas e o rumo de campeonatos, como em 2005.
Já como semelhança, emerge a problemática da relação entre esporte, apostas e crime. Como em 2005, um grupo de criminosos se reuniu para tentar obter lucros advindos de apostas fraudulentas, matando a alma do esporte. Isto não mudou, apenas tem a tendência de se tornar cada vez mais frequente.
Isto porque, como evidenciamos, se trata de um mercado multimilionário, de uma área extremamente sensível, sem a regulamentação adequada.
É uma atividade sensível por se tratar de jogos de azar e, por conseguinte, estimula áreas do cérebro geradoras do prazer e satisfação, podendo acarretar em dependência fortíssima.
É uma área sem a devida regulamentação, pois desde sua aprovação, não foram criados órgãos especiais para seu monitoramento, regras de propaganda e distribuição, taxação e controle do fluxo de capitais ou até mesmo de educação e conscientização dos perigos da aposta esportiva.
Listadas estas questões, podemos concluir que o esporte morre pouco a pouco. Mais um vez, o capital a qualquer custo inunda um ambiente mágico para torná-lo um parafuso da engrenagem do modelo de sociedade que vivemos. E é uma doença silenciosa.
Da próxima vez que o jogador do seu time tomar um cartão amarelo num lance bobo, o que passará pela sua cabeça? E todos os outros cartões amarelos tomados e escanteios cedidos que nunca imaginamos se tratar de uma fraude, talvez tenham de fato sido.
A lógica de apostas no Brasil, hoje, fere todos nelas envolvidos. Perdem os clientes honestos das casas de apostas, os clubes, os jogadores, os torcedores e o esporte. O esporte em sua essência. O esporte na beleza de se colocar atletas em disputa, em condições de igualdade, buscando apenas um resultado, a vitória.
Por fim, ao ver o lado positivo da questão, a Operação Penalidade Máxima pode ser um marco. Que enseje a regulamentação da área, crie medidas preventivas e restritivas para tais atos e puna firmemente todos os envolvidos. Contudo, só teremos as respostas no futuro.
E você? Qual sua opinião sobre isso?
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Escrito por Vitor F L Miller.