Tendemos a acreditar que o funcionamento do futebol é igual em todo o mundo. Hoje veremos a diferença entre os sistemas brasileiro e italiano de futebol.
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Diferenças entre os sistemas brasileiro e italiano de futebol
No Brasil
Imagem: Reprodução GE
Em solo brasileiro é difícil conseguir diferenciar propriamente jogadores profissionais de jogadores amadores.
Diversas pequenas equipes contam com atletas que não tem o futebol como sua única ocupação, visto que a camada mais baixa do mundo da bola é, muitas vezes, ignorada pela mídia e veículos de comunicação.
A verdade é que um país desigual como o Brasil vive essa realidade também no ambiente futebolístico.
Enquanto os clubes da Série A do Brasileirão chegam a pagar R$ 2 milhões mensais a um jogador, a imensa maioria de futebolistas devem sobreviver com salários infinitamente mais baixos.
Ademais, os salários milionários oferecidos pelos clubes da Série A tem um efeito pujante sobre a média salarial, que fica na casa dos R$ 8,4 mil, entre os cerca de 11 mil atletas profissionais com registro em carteira de trabalho.
Mas quais são as razões para que isto aconteça?
O futebol brasileiro é muito pouco democrático. Ele está dividido entre as Federações Estaduais e a entidade máxima da modalidade, a CBF.
As entidades estudais são responsáveis pelos torneios de início de ano, nos quais equipes de um mesmo estado disputam entre si o título de campeão. Geralmente, costumam ter duração máxima de apenas três meses, não mais que isso, com raras exceções, como a Copa Paulista, que ocorre no estado de São Paulo depois do término do campeonato paulista.
A CBF, por sua vez, organiza os torneios de cunho nacional, sendo o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.
O Campeonato Brasileiro é separado em quatro divisões, indo da Série A, elite do futebol nacional, à Série D.
A Série D, aos olhos de muitos desavisados, parece ser um campeonato sem expressão. Contudo, não sabem a dificuldade das equipes em sequer conseguir espaço em competições nacionais.
Os clubes estão aptos a jogar a Série D dependendo de sua classificação nos campeonatos e copas estaduais, disputados no início do ano. Portanto, caso a equipe não faça um bom campeonato estadual, estará fadada a passar o resto do ano sem calendário. Sem jogos, como poderão arcar com seus compromissos? Seja o pagamento de um salário digno aos atletas, contas de água, luz, alugueis, pessoal, etc.
A Copa do Brasil, por sua vez, conta com 92 equipes de todos os estados brasileiros. Entretanto, cede a possibilidade de clubes pequenos jogarem no máximo 3 jogos, na maioria das vezes. Isto porque é impossível para clubes de menores expressão baterem de frente com os ditos “grandes” do Brasil, sobretudo depois da inserção dos times que se classificaram para a Libertadores, nas oitavas de final.
Em outros tempos, times como o Juventude, Criciúma, Santo André e Paulista de Jundiaí chegaram a levantar o caneco, mas atualmente, com a disparidade financeira, que desencadeia uma diferença técnica abismal entre as equipes, fez com que as “zebras” sejam cada vez menos recorrentes.
Desta forma, por futebol profissional, no Brasil, entende-se como clubes que estão aptos a disputar competições no âmbito estadual e nacional, desde que organizadas pelas federações e CBF, respectivamente.
Ademais, o caminho para o futebol profissional é uma via de apenas duas mãos.
O atleta pode se tornar jogador profissional do dia para a noite. Pode atuar na várzea e magicamente ser contratado por uma equipe profissional (exemplos como Fred e Leandro Damião).
A outra alternativa, que é a mais popular, começa com o atleta, desde muito jovem, integrando as categorias de base de um determinado clube. À medida que vai envelhecendo, sobe de categoria, até ultrapassar os 20 anos, quando se encerra o futebol de base.
Neste momento, ou o jogador se torna um profissional, assinando contrato com algum clube que se encaixe no enquadramento ora mencionado, ou deverá procurar outra profissão.
Este sistema é um verdadeiro moedor de seres humanos, haja vista que em um país como o Brasil, que conta com uma parcela significante de pessoas pobres, estes jovens veem o futebol a possibilidade de mudar não apenas sua vida, mas também de sua família e todos aqueles à sua volta.
Portanto, um jovem que chega aos 20 anos de idade e não encontra a chance de se tornar um jogador profissional, se verá com poucas alternativas, já que provavelmente terá negligenciado os estudos ao longo de sua adolescência.
Soluções devem ser encontradas.
Imagem: CBF
Na Itália
Já no Velho Continente, tendo como exemplo a Itália, o modo organizacional do futebol é diverso.
A FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio), toma para si a responsabilidade de organizar campeonatos de âmbito regional (já que a Itália não é dividida em estados, mas sim em regiões) e nacional.
Claramente, se comparada ao Brasil, a Itália tem uma superioridade factível, que é seu espaço geográfico e populacional. Com dimensões muito inferiores ao Brasil, tem maior facilidade organizacional.
De todo modo, há uma divisão muito clara entre o futebol profissional e amador, de forma que ambos estão sob o guarda-chuva da FIGC.
O setor juvenil, que seria equiparado às categorias de base brasileiras, tem início no sub14 e vão ao chamado juniores, de jogadores de 18 à 20 anos.
Entretanto, este não necessariamente é o fim da linha para os jovens italianos. Podem, sim, assinar um contrato profissional com os grandes clubes da Série A, embora outros caminhos possam ser seguidos.
O fato da FIGC controlar tanto o futebol amador quanto o futebol profissional, faz com que estes sistemas sejam escaláveis e que produzam uma sinergia maior, sem contar a parte de definição de papéis, que é preponderante.
Depois do setor juvenil e de juniores, numa escala de grandeza, vemos os ditos “Dilettanti”, que seria considerado o futebol amador, dividido nas seguintes categorias:
Amador:
- 3a Categoria
- 2a Categoria
- 1a Categoria
- Promozione
- Eccellenza
- Serie D
Sim, ao contrário do Brasil, a Serie D italiana é considerada amadora.
Outro ponto interessante. Um dos fatores primordiais para aquela que é considerada a arbitragem mais tradicional do futebol, os árbitros italianos devem passar de categoria em categoria até chegar à Série A, submetendo-se a avaliações frequentes de observadores da F.I.G.C através do italiano Associação de Árbitros.
Apenas deste modo, podem ser promovidos de categoria, se o fizerem dentro de um determinado prazo e com avaliações positivas.
Profissional
- Serie C
- Serie B
- Serie A
Desta forma, podemos observar uma diferença clara entre o futebol amador e profissional. Embora ambos estavam organizados e sob responsabilidade da federação italiana, o que eleva o nível de competitividade, bem como dá chance real para que os atletas possam conciliar a tentativa de seguir com o futebol e uma atividade laboral complementar.
Pontos a serem observados pela CBF.
Imagem: Il Centro
A Várzea Brasileira
No Brasil, a Várzea é sinônimo de futebol amador.
Mas afinal de contas, o que é o futebol de várzea?
Várzea, na acepção da palavra, significa um terreno longo e plano. Em terras canarinhas, tais terrenos são usados pela comunidade local como campo futebol.
Ali, os moradores da região, por conta própria, organizam suas equipes e disputam campeonatos entre si, sem qualquer regulamentação das entidades de futebol brasileiras.
A várzea é mais que isso. Várzea é o sentimento de representar sua quebrada, e movimenta multidões por onde passa.
Nos últimos anos, os campeonatos de várzea, por iniciativa dos organizadores e interesse econômico de anunciantes, passou a ter uma formatação semelhante ao profissional.
Separada em divisões, sobretudo na Grande São Paulo, times conseguem angariar recursos e pagar atletas, muitas vezes profissionais aposentados, por meio de patrocínio, premiações e apoio dos torcedores.
Exemplo disso são a Copa Pioneer, Copa Kaiser e Taça das Favelas.
Jogadores como Pará, ex lateral direito que chegou a ser campeão da Copa Libertadores pelo Santos; O volante Christian, ex Corinthians campeão paulista e da Copa do Brasil; Jaílson, ex goleiro titular do Palmeiras campeão do Brasileirão; e tantos outros.
Imagem: Edu Garcia/R7
Apelo à CBF
Este artigo tem a intenção clara de demonstrar que o sistema brasileiro de futebol está longe de ser o ideal.
De modo que, aquilo que é veiculado pela grande mídia, apresenta apenas a ponta da superfície da máquina futebolística no país.
A CBF, como entidade máxima da categoria, deveria se ocupar mais com projetos e meios para que os jogadores profissionais e amadores, bem como os clubes, tenham a oportunidade de disputar o esporte mais popular do mundo de forma digna.
Isto passa por gerar uma capilaridade maior dos campeonatos nacionais, dando palco e incentivo para que os atletas não passem três meses jogando e os outros nove procurando um trabalho para dar sustento à sua família.
Uma alternativa, levando em conta as dimensões continentais do Brasil, seria criar campeonato regionalizados. Por exemplo, disputa entre times nordestinos, nortistas, sudestinos, sulistas e centro-oestino, entre si.
Meios econômicos não faltam, já que a entidade teve um superávit acumulado de R$ 143 milhões (cerca de €27 milhões), de acordo com o balanço de 2023.
Um outro bom caminho seria promover, organizar e patrocinar campeonatos amadores, com apoio das lideranças da várzea, de maneira a estruturar o segmento do futebol amador no Brasil, que é inexistente no âmbito institucional.
Ainda, dar maior suporte para o futebol nacional, possibilitar uma maior democratização, salários dignos e integração com as federações, seja no setor de jogadores, seja nos agentes de arbitragem.
A verdade é que, quem ganhará com isso é o futebol brasileiro; aqueles que são protagonistas da atividade, bem como os que são apaixonados por ela.
Acredita que estas medidas possam ser benéficas para o Brasil?
Imagem: Thais Siqueira
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Escrito por Vitor F L Miller.