Ronaldinho Gaúcho é um dos jogadores de futebol mais icônicos do mundo, graças às suas habilidades mágicas com a bola e personalidade carismática. Ao longo de sua carreira, ele jogou em alguns dos maiores clubes do mundo, conquistando títulos e prêmios individuais. Neste artigo, vamos revisitar a trajetória de Ronaldinho em ordem cronológica, abrangendo seus clubes, vida pessoal, aposentadoria, prisão e o que ele está fazendo atualmente.
Index
Craque se faz em casa
Ronaldinho nasceu em Porto Alegre, Brasil, em 21 de março de 1980. Seu pai, João da Silva, era um ex-jogador de futebol amador, e sua mãe, Dona Miguelina, trabalhava como faxineira.
Seu irmão mais velho, Assis Moreira, ou simplesmente Assis, também foi atleta profissional de futebol. Nascido em 1971, Assis atuou em diversos clubes, tendo iniciado a carreira no Grêmio, assim como Ronaldinho.
Ainda, passou por Vasco da Gama, Fluminense e Corinthians. Mas não apenas isto, Assis passou boa parte de sua carreira atuando no exterior, com passagens marcantes pelo Sion, clube suíço onde faturou o bicampeonato suíço e duas Copas da Suíça. Também atuou por Sporting e finalizou sua carreira em 2002, pelo Montpellier, aos 31 anos de idade.
Em muitos momentos, inclusive os que serão aqui abordados, Ronaldinho Gaúcho mostra toda gratidão ao seu irmão e a importância de Assis e seu pai no trato do rapaz com a bola.
Em sua infância, Ronaldinho viu seu pai, João, um ex-jogador de futebol amador, se afastar dos gramados para trabalhar como segurança e garantir o sustento da família. Já Dona Miguelina era uma faxineira que se desdobrava para cuidar dos filhos e da casa.
Ronaldinho e seu irmão mais velho, Assis, cresceram em uma casa simples, sem água encanada ou banheiro. Eles dividiam um quarto com os pais e as três irmãs mais novas.
Apesar das dificuldades, Ronaldinho sempre teve uma grande paixão pelo futebol. Desde pequeno, ele jogava bola nas ruas do bairro com os amigos e sonhava em se tornar um jogador profissional. Seu talento para o esporte era evidente desde cedo e ele logo chamou a atenção dos vizinhos e dos treinadores de futebol.
Assim, Ronaldinho começou nas escolinhas de futsal do Grêmio aos 7 anos de idade.
Já nesta época, o promissor jogador Assis já dava entrevistas dizendo que o craque da família era Ronaldinho, então com 8 anos. Parece que Assis acertou na profecia.
Apesar de uma infância sem muitas regalias, Ronaldinho sempre foi um garoto alegre e extrovertido. Ele era conhecido por seu sorriso largo e por sua simpatia com as pessoas. Seu jeito simples e despojado conquistou muitos fãs ao longo de sua carreira, tanto dentro quanto fora dos campos.
Hoje em dia, Ronaldinho é reconhecido como um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Sua história de superação e sucesso é inspiradora para muitas pessoas, especialmente para aquelas que enfrentam dificuldades em suas vidas.
Grêmio: O Início de uma Lenda
Ele começou a jogar futebol em uma quadra de rua em Porto Alegre e rapidamente se destacou por sua habilidade com a bola. Aos oito anos, ele se juntou à equipe juvenil do Grêmio, um dos principais clubes de futebol do Brasil.
Ronaldinho jogou nas equipes juvenis do Grêmio por alguns anos antes de ser promovido à equipe principal em 1998, aos 17 anos de idade.
Entretanto, a torcida gremista já criava expectativas bastante grandes sobre o garoto, e isto graças ao próprio Ronaldinho. No ano de 1997, no Campeonato Mundial sub17, Ronaldinho barbarizou os adversários e deu ao Brasil o título da competição. Logo, já corriam os boatos pelas ruas de Porto Alegre de que o garoto sorridente seria a esperança de um novo Grêmio, que havia perdido seus ídolos Jardel e Paulo Nunes.
Deste modo, no dia 4 de março de 1998, o Grêmio enfrentava o Vasco da Gama, pela fase de grupos da Libertadores da América. O
O Vasco estava repleto de craques, como Juninho Pernambucano, Ramon, Felipe, Mauro Galvão e Luizão. O Gigante da Colina, inclusive foi campeão daquela edição da Libertadores. Contudo, naquele jogo saiu derrotado do Olímpico com um gol de cabeça de Guilherme, em escanteio cobrado por quem? Ronaldinho Gaúcho.
Ronaldinho jogou pelo Grêmio até 2001, ajudando o clube a conquistar o Campeonato Gaúcho e a extinta Copa Sul, ambos em 1999. Ele marcou 68 gols em 139 jogos oficiais pelo Grêmio, estabelecendo-se como um dos jogadores mais importantes da história do clube. Isto, mais por seu estilo de jogo e importância para a história do futebol do que propriamente pelos títulos conquistados.
Paris Saint-Germain: O Brilho na Cidade das Luzes
Em 2001, Ronaldinho deixou o Grêmio para se juntar ao Paris Saint-Germain. Mas a transferência foi carregada de polêmica e rancor.
Especula-se entre a torcida gremista e o então Presidente do clube, José Alberto Ribeiro, de que Ronaldinho tenha forçado sua saída do Grêmio, senão vejamos.
De acordo com as impressões do Grêmio, Ronaldinho postergou sua renovação contratual, deixando o clube gaúcho numa situação delicada. Mesmo assim, o Tricolor não poupou esforços e fez uma proposta absolutamente surreal para contar com Ronaldinho por mais duas temporadas.
A proposta nababesca gremista contava com mensais de R$ 300.000,00 por um ano e R$ 400.000,00 pelo ano seguinte, sem contar luvas em quase R$ 20 milhões de reais à Ronaldinho. É preciso ressaltar que se trava do ano de 2001 e no Brasil, à época, não havia notícia de contrato com cifras tão expressivas. Até para os dias de hoje os valores são incríveis. Em simulação realizada, apenas com atualização monetária, o Grêmio ofereceu à Ronaldinho o equivalente a aproximadamente R$ 81,2 milhões.
Apesar dos esforços, Ronaldinho estava decidido à voar para o Velho Continente. Logo, desembarcou em Paris para defender as cores do Paris Saint-Germain. O Grêmio, por sua vez, recebeu apenas 5 milhões de dólares por um dos maiores jogadores de todos os tempos. Com isso, a torcida gremista não guarda as melhores lembranças do jovem Ronaldinho.
Pelo PSG, Ronaldo atuou por duas temporadas, de 2001 a 2003, marcando 25 gols em 77 jogos.
Não foi uma passagem brilhante no quesito títulos, mas serviu como uma grande oportunidade para Ronaldinho mostrar ao mundo do que seria capaz, sobretudo pelo futebol apresentado na Copa do Mundo de 2002, que o Brasil se sagrou pentacampeão.
A Copa do Mundo de 2002
O técnico Luiz Felipe Scolari não é um dos maiores técnicos da história por acaso. Mesmo com tantas opções no meio de campo, ele sabia que Ronaldinho Gaúcho seria fundamental para dar ao seu time velocidade na transição e a capacidade de quebrar linhas com seus dribles desconcertantes.
Sua atuação mais marcante, sem dúvida, foi contra a Inglaterra. Em um dos jogos mais difíceis para os brasileiros, os ingleses abriram o placar, com Michael Owen. Entretanto, o Bruxo estava em campo. Ele arranca pelo meio e com um drible de corpo mágico deixa Ashley Cole completamente desnorteado, sendo simples deixar Rivaldo em condição de empatar o jogo antes do fim do primeiro tempo.
No segundo tempo, um dos gols mais marcantes da história das Copas. Cobrança de falta para o Brasil, rente à linha lateral direita. A única opção válida para qualquer jogador, principalmente destro, é tentar o cruzamento. Mas Ronaldinho Gaúcho não é qualquer jogador.
O goleiro Seaman também esperava que Ronaldinho fizesse o cruzamento, portanto se posicionou um pouco à frente do habitual. O resultado? O dentuço irreverente chuta uma bola de curva que cai rapidamente, encobre Seaman e beija a bochecha da rede, para fazer Brasil 2×1 e levar a Seleção Canarinho à semifinal da competição.
A Copa do Mundo, por óbvio, muda a trajetória da carreira daqueles que a conquistam. Com Ronaldinho não foi diferente. A vitória e a participação como titular o credenciaram a um novo patamar no futebol internacional. Os maiores clubes do mundo passaram não só a observar, mas a desejar a joia brasileira.
Barcelona: O Auge da Carreira de Ronaldinho
Em 2003, o Manchester United, lendário time comandado pelo místico Sir Alex Ferguson, havia perdido seu ídolo David Beckham, vendido ao Real Madrid. Com isso, os Red Devils buscaram alternativas e seu principal alvo era Ronaldinho Gaúcho.
Apesar do desejo dos ingleses, todos sabem o desfecho desta operação. Ronaldinho deixou o PSG para se juntar ao Barcelona. A transferência custou ao Barcelona cerca de 32,5 milhões de euros, um valor recorde na época.
Esta era a cartada final do Barcelona e de seu presidente Joan Laporta. O clube catalão, que já tinha vivido seus tempos de glória, contando com os dos maiores jogadores da história do futebol mundial, como Maradona, Ronaldo e Romário, vivia uma seca de títulos.
La Liga era dominada pelos galácticos do Real Madrid, que haviam vencido a Champios League há poucas temporadas e já contavam com Ronaldo Fenômeno.
Ademais, clubes menos tradicionais como o Valência e o Deportivo La Coruña de Djalminha e companhia começavam a tomar um protagonismo inesperado. O La Coruña, por exemplo, de 1995 a 2004 conquistou 1 La Liga, 2 Copas do Rei, 3 Supercopas da Espanha, além chegar à semifinal da Champions League.
O Valência, no mesmo período, foi duas vezes campeão de La Liga, 1 vez da Copa do Rei e Campeão da Copa da Uefa.
Logo, ficava evidente a necessidade do Barcelona de reinventar. Joan fez a aposta em Ronaldinho para atingir este outro patamar. Aparentemente, deu certo.
Sua estreia foi contra o Sevilla, por La Liga, em setembro de 2003. Não poderia ter ocorrido de forma mais mágica. Ronaldinho recebe o lançamento do goleiro num contra ataque com o meio de campo da equipe Colorada exposto. Ele corta dois jogadores com seu típico drible de corpo, e de longe, acerta uma bomba de pé direito. A bola caprichosamente toca a trave, o chão e a parte de cima da rede, tamanha a potência do chute do Bruxo.
A partir daí, as histórias de Ronaldinho como craque do Barça foram se empilhando. Ronaldinho deu muito mais do que se esperava e nas cinco temporadas que lá esteve, de 2003 a 2008, ele ajudou o Barcelona a conquistar dois títulos da Liga Espanhola, uma Liga dos Campeões da UEFA e duas Supercopas da Espanha, além de vários outros troféus.
Isto não é tudo. Ronaldinho Gaúcho, sobretudo no período em que esteve no Barcelona, oferecia jogo após jogo verdadeiros espetáculos. Quem não se lembra da mágica atuação contra o Real Madrid em que marcou dois gols e foi ovacionado pela torcida adversária? Ou então toda a trajetória da Champions League da temporada 2005/2006? A “sambada” na frente da zaga do Chelsea para fazer aquele gol antológico?
Este foi um período muito especial. Não só da carreira de Ronaldinho, mas para todo o futebol. O Bruxo mostrou ao mundo como fazer magia com os pés. Como fazer seus adversários te respeitarem e admirarem por ser quem você é.
Ele é e sempre será um garoto irreverente, capaz de dominar qualquer estádio com dribles, gols, um sorriso aberto e um “hang loose” para os deuses do futebol. Esta é a imagem que fica.
No que diz respeito aos números, incapazes de expressar o que representou essa passagem pelo Barça, não há outra palavra, se não espanto. Ele marcou um total de 94 gols em 207 jogos pelo Barcelona, quantidade muito elevada se tratando de um meia.
Neste período, Ronaldinho ganhou duas Bolas de Ouro, mais do que merecidas.
Entretanto, todo amor de Ronaldinho transbordava às 4 linhas e inundava sua vida pessoal. O craque gostava muito de frequentar a noite de Barcelona, o que acabou por afetar seu desempenho dentro de campo.
Para além das vitórias no gramado, Ronaldinho orientou, guiou e ajudou o jovem Lionel Messi a se tornar o que ele é hoje, mas isto fica para um outro texto.
As duas últimas temporadas de Ronaldinho no Barcelona não renderam títulos ao clube e suas atuações já não causavam o impacto de outrora. Ao terminar a temporada 2007/08 em terceiro lugar de La Liga, o então presidente Joan Laporta chegou a pedir publicamente que Ronaldinho buscasse uma mudança de ares, vez que seu ciclo no Barça teria chegado ao fim.
Assim, o fez. O Bruxo desembarcava em Milão para se juntar Kaká, Alexandre Pato, Dida, Thiago Silva e outros craques. O Milan pagou a bagatela de 24,15 milhões de euros para contar com Dinho. Seria ele capaz de desempenhar um papel importante e conquistar títulos?
Milan: Lampejos do Bruxo
Em 2008, Ronaldinho deixou Barcelona para viver no Norte da Itália, na bela Milão.
A expectativa era enorme. O Bruxo deixou os amantes do futebol mal acostumados. As temporadas de 2004 e 2005 o credenciaram como um dos melhores jogadores de todos os tempos. Mas e agora? Seria ele capaz de reeditar os feitos destas temporadas?
A resposta é simples e rápida. Não. Até porque os anos em que ganhou a Bola de Ouro são únicos. Seria uma injustiça com todos os adversários que tamanha genialidade se replicasse igualmente através do tempo. A magia máxima do futebol restou reclusa por apenas 2 temporadas.
Entretanto, isto não quer dizer que alguns dos lampejos não estivessem ali presentes. No período em que esteve presente no Milan, de 2008 a 2011, vimos algumas belas atuações do Bruxo. Dribles desconcertantes e jogadas de efeito, como aquela em que o craque passa a bola pelo meio das pernas do jogador do Chievo usando o calcanhar.
Quanto aos títulos, de fato não foram muitos. Ronaldinho pôde ajudar na conquista do Campeonato Italiano da temporada 2010/11, apesar de estar presente apenas no início da temporada. Este foi um título importante, já que o Milan não conquistava o Scudetto desde 2003.
Deste modo, a relação de Ronaldinho com os Milanistas foi se desgastando, já que se passara mais de duas temporadas e apenas lampejos do craque foram entregues. Ele marcou apenas 26 gols em 95 jogos e deixou a Itália para voltar para casa. O Brasil.
Flamengo: O Retorno ao Brasil
Em 2011, Ronaldinho deixou o Milan para retornar ao Brasil e se juntar ao Flamengo, mas não foi um processo simples.
Desde que decidiu deixar o Milan e retornar ao Brasil, as capas de jornal brasileiros estampavam dia após dia o rosto de Ronaldinho com especulações sobre qual seria o seu destino.
A novela já se arrastava por um longo tempo. O Bruxo foi sondado em todos os grandes clubes do país, mas a disputa final se reduziu à Flamengo, Palmeiras e Grêmio.
O Grêmio via ali uma oportunidade de Ronaldinho fazer as pazes com a torcida gremista, vez que sua saída foi cheia de polêmicas. Contudo, a tão sonhada repatriação do melhor jogador de sua história não ocorreu.
Desta vez, Ronaldinho escolheu o Flamengo. O time da Gávea já contava com diversas estrelas no elenco, como David, Thiago Neves e Wagner Love. O Bruxo foi recebido calorosamente por 20.000 flamenguistas apaixonados na Gávea. A festa foi geral.
Pelo Flamengo, Ronaldinho foi campeão Carioca de 2011 e em sua passagem marcou 19 gols em 43 jogos.
Além do título, o momento mais marcante de Ronaldinho foi um jogo em específico. Este, considerado por muitos um dos maiores, se não, o maior jogo da história do Campeonato Brasileiro.
O palco não poderia ser outro. Vila Belmiro, a casa do Rei Pelé. Santos x Flamengo. De um lado o Santos campeão da Libertadores daquele ano, com Neymar, Ganso, Alex Sandro, Danilo e Elano. Do outro, o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho. Vamos aos fatos.
O Santos, como esperado, partiu pra cima e abriu 3×0 logo nos primeiros 30 minutos de jogo. Neymar era simplesmente imparável. No segundo gol do Peixe, ele tenta uma cavadinha sobre o goleiro Bruno, que defende. A bola sobra para ele quicando dentro da área, que sentado, dá uma espécie de bicicleta para assistir Borges, que marcou seu segundo gol no jogo.
Mas o terceiro gol merece um capítulo especial. Neymar recebe no meio de campo, rente à linha lateral. Prontamente, dois marcadores chegam para tomar-lhe a bola, mas o garoto do Santos da um drible de letra, deixando os flamenguistas na saudade.
Com isso, tem para si o meio campo aberto, então carrega a bola em velocidade em direção à área. Toca para Borges, que faz a parede e devolve à Neymar. O Menino da Vila aplica sobre Ronaldo Angelim um drible que simplesmente não é possível traduzir em palavras. O goleiro Bruno sai do gol tentando abafar, mas ele toca com a parte externa do pé, quase caindo, e marca o terceiro gol do Santos.
Este gol rendeu a Neymar o Premio Puskas daquele ano, sendo considerado o gol mais bonito da temporada.
Mas do outro lado estava o Bruxo, que ainda que não tão consistente como nos anos anteriores, era capaz de produzir lampejos de um dos jogadores mais mágicos da história.
Ronaldinho Gaúcho aproveita o cruzamento e apenas completa para empurrar a bola pro fundo do gol. 3×1.
Logo em seguida, Léo Moura cruza e Thiago Neves faz de cabeça. 3X2.
Neste momento, Neymar sofre penalti. Elano cobra com uma cavadinha no meio do gol, mas não surpreende o goleiro Bruno, que defende e faz embaixadinhas para debochar da cobrança do craque santista. Isto abasteceu mais ainda as esperanças flamenguistas.
Ainda no primeiro tempo, Ronaldinho cobra escanteio e David escora no primeiro pau para empatar o jogo. O Flamengo empatava um jogo que parecia perdido.
Os times voltaram para o segundo tempo e o ímpeto não diminuiu. Neymar é lançado no canto direito, ganha de Léo Moura na corrida e aplica uma cavadinha sobre Bruno. Golaço. Santos 4×3.
Foi neste momento que o Bruxo mostrou a razão de sua alcunha. Ele faz uma jogada magistral, dribla 3 jogadores do Santos e é derrubado na entrada da área. Falta. Ele vai para a cobrança e de repente a magia se instaura. Ronaldinho cobra por baixo da barreira e deixa o goleiro Rafael sem reação. 4×4.
Por fim, ao apagar das luzes, Ronaldinho recebe dentro da área do Santos e com um toque de mestre desloca o goleiro do Santos para virar o jogo e selar seu hat-trick. Flamengo 5×4 Santos.
Este jogo, mais do que pela classificação dos times no campeonato, ficou marcado pelo embate entre a genialidade de Ronaldinho Gaúcho e Neymar. O Menino da Vila, com 19 anos, tinha sido campeão da Libertadores há um mês e dividia ali no Templo do Futebol, com seu ídolo, o palco. E que espetáculo os dois apresentaram.
Serviu também para mostrar que Ronaldinho, com seus 31 anos, ainda tinha muito mais à mostrar para o Brasil e o mundo. E assim sucedeu.
Atlético Mineiro: O Galo nunca mais foi o mesmo
Até 2013, o Atlético Mineiro, não havia faturado uma Copa Libertadores, ao contrário de seu rival, o Cruzeiro, que já tinha duas em seu currículo, e não muito tempo atrás chegou a mais uma final, em 2009.
Isto gerava desconforto geral na torcida atleticana e sua diretoria, que decidiu montar um time capaz de bater de frente com qualquer um da América do Sul.
Portanto, em 2012, Ronaldinho deixou o Flamengo para se juntar ao Galo e ele não foi o único.
O time do Galo era composto por jogadores rodados, experientes e ganhadores. Junto de Ronaldinho chegou Jô, que não tinha tido uma passagem boa pelo Internacional. Em seguida, chegaram Richarlison, multi campeão pelo São Paulo, Diego Tardelli, que estava no mundo árabe, bem como o goleiro Victor.
Sob comando do técnico Cuca, o time foi tomando corpo e usava e abusava de sua malícia e experiência. Em contraponto, contava com o jovem Bernard pelas pontas aplicando dribles e imprimindo velocidade no jogo do Galo.
Tal malícia e genialidade citada foi posta a prova da maneira mais brilhante logo na primeira rodada da Libertadores.
O Galo enfrentava o São Paulo no Horto, em Belo Horizonte. Aos 13 minutos do primeiro tempo, há uma lesão no meio de campo e o jogador precisa de atendimento. O jogo se desenrola normalmente e a bola sai para lateral com posse para o Galo. O árbitro então para o jogo para que seja feito o atendimento à Júnior Cézar.
O jogo fica parado por alguns instantes para que o jogador seja atendido. Enquanto isso, Ronaldinho Gaúcho caminha lentamente até Rogério Ceni, o goleiro artilheiro, e pede um gole de sua água. Ele toma alguns goles, conversa por alguns segundos, agradece, devolve a garrafinha a Rogério e vai se deslocando à linha lateral na altura da grande área defendida pelo São Paulo.
Ronaldinho está sozinho, sem qualquer marcação, a poucos metros do gol de Rogério Ceni. Então, o juiz autoriza a cobrança do lateral, mas ninguém percebe a presença de Ronaldinho ali, exceto por Marcos Rocha.
O lateral direito do Galo faz a cobrança com sua tradicional força e acha Ronaldo livre para receber a bola dentro da área. O craque domina, toca para trás e serve Jô, que faz o gol.
Os jogadores ficam incrédulos alegando alguma irregularidade, que simplesmente não havia e o gol foi validado. Importante lembrar que não há impedimento quando o passe provém de uma cobrança de lateral.
Este foi o início da trajetória até chegar no título mais importante da história do Galo.
Aquilo foi um aperitivo do que Ronaldinho faria naquela competição. Ele fez 4 gols e entregou 7 assistências. O Galo seguia na competição mesmo contra qualquer estatística, com defesa de penalti pelo goleiro Victor no último lance, contra o Tijuana e uma final totalmente emocionante.
No Mineirão lotado, o Atlético tentava reverter o placar de 2×0 sofrido em Assunção contra o tradicionalíssimo Olímpia. Em jogo emocionante, o Galo devolveu o placar marcando seu segundo faltando 3 minutos para o fim do jogo e levou a decisão para os penaltis.
Na decisão por penaltis, mais uma vez brilhou a estrela de Victor. 4×3 para o Galo. A torcida atleticana comemorava o título mais importante de sua história, que também era uma novidade para Ronaldinho.
Nesta conquista ele mostrou do que era capaz e se tornou ídolo eterno do popular Galão da Massa.
Contudo, nem tudo são flores. A vitória da Copa Libertadores, o Atlético Mineiro foi disputar o Mundial de Clubes. Título supremo para os torcedores brasileiros. A expectativa dos torcedores já projetava um eventual confronto com o Bayern de Munique, campeão da Champions. Contudo, ele nunca ocorreu.
O Atlético foi surpreendido pelo time marroquino Raja Casablanca e foi derrotado por 3×1 a semifinal do mundial. A torcida fanática do Raja inclusive coloca tal feito em uma de suas músicas:
“Atlético Mineiro, não se esqueça de Mitouali e desta geração,
O nome do Raja está presente numa avenida no Brasil”
Desta maneira, o ciclo de Ronaldinho foi chegando ao fim no Galo Mineiro, até deixar o clube em 2014 para tentar uma experiência no futebol mexicano. Esta foi a última chance que tivemos de ver Ronaldinho Gaúcho atuar em alto nível.
Querétaro e Fluminense: O fim anunciado
Após deixar o Atletico Mineiro em 2014, Ronaldinho migrou para o México. Não podia ser diferente. Sua chegada causou alvoroço. O povo mexicano, muito apaixonado pelo futebol, comemorou o fato de poder contador com um dos jogadores mais mágicos da história em sua liga.
Apesar da festa, o Bruxo esteve por lá por apenas uma temporada.
Até protagonizou lances tipicamente “Ronaldísticos”, como aquele em que o goleiro tem a bola dominada com as mãos e a solta no ar por um instante para chutá-la e recolocá-la em jogo. Este décimo de segundo foi o suficiente para que Ronaldinho tocasse na bola no ar no espaço de tempo entre a saída da mão do goleiro e seu pé. O Bruxo fez o gol, mas foi anulado.
Em seguida, no ano de 2015, o Bruxo tenta uma volta ao futebol brasileiro, desta vez para o Fluminense. Entretanto, esta passagem não passou de um devaneio. Ronaldinho não sentia mais o amor e paixão por jogar futebol e produzir espetáculos.
Durante toda sua carreira, ele dividiu a responsabilidade do futebol com suas loucuras extra campo, geralmente acompanhado de muitas mulheres e se envolvendo em polêmicas.
Pelo Flu, foram 7 jogos e nenhum gol, até anunciar sua aposentadoria do futebol.
Depois do futebol
Com o final de sua carreira, começaram a aparecer notícias de que a gestão do dinheiro recebido em sua carreira não foi das melhores. A partir daí a vida pessoal do astro se tornou cada vez mais conturbada, estampando as capas dos jornais por motivos indesejados.
Em 2020, foi acusado de praticar golpe financeiro envolvendo uma empresa, da qual Ronaldinho alegava ser sócio fundador. Uma mulher de 25 anos fez uma denúncia de que havia sido prometido um rendimento de 2% sobre aplicações geridas pela 18kRonaldinho em Bitcoins. Desta forma, a jovem não conseguiu proceder com o saque dos valores e a plataforma utilizada se encontrava indisponível.
Por esta e outras razões, o passaporte de Ronaldinho Gaúcho e Assis foi retido, o que ocasionou um evento histórico.
Em março de 2020, Ronaldinho e seu irmão Assis, foram ao Paraguai para o lançamento de um cassino e de sua biografia, “O Gênio da Vida”. Os irmãos conseguiram entrar no país, mas dali não saíram tão cedo.
Ronaldinho estava em seu hotel em Luque, dois dias depois do embarque, quando foi surpreendido por promotores paraguaios.
Os passaportes por eles utilizados eram falsos. A produção do documento era legal, mas continham informações inverídicas. Pelo crime, ele e seu irmão foram levados à prisão.
O governo brasileiro, por meio de seu corpo diplomático, tentava a extradição de Ronaldinho e seu irmão, mas não obtinha sucesso. Não havia escapatória, Ronaldo Gaúcho ficaria preso por 6 meses em terras paraguaias.
Mas Ronaldinho sempre soube usar seu poder e carisma. Do tempo passado na cadeia, desfrutou de todas as regalias possíveis, como ter suas refeições levadas por seus advogados, ter televisão em sua cela, dentre outros pontos.
No cárcere, Ronaldinho passou a integrar o dia a dia dos presos. Participava dos torneios de futebol e futevôlei, se sagrando campeão, por óbvio. Dizem que ele ganhou um porco como premiação do torneio.
Cerca de um mês depois, Ronaldinho e Assis pagaram fiança e tiveram a possibilidade de cumprir o restante da pena em regime domiciliar, em um hotel em Assunção.
Desde então, Ronaldinho tem se mantido longe dos holofotes pelas razões erradas, mas sua imagem de pessoa pública permanece.
Após a saída da prisão e retorno ao Brasil, Ronaldinho Gaúcho instituiu o projeto “Tropa do Bruxo”, em que reuniu artistas do Rap e Trap Brasileiros em colaborações.
Além disto, tem usado sua imagem para atuar como embaixador em diversas causas. Hoje ele é embaixador do Barcelona e da Kigs League (Liga de futebol alternativa criada por Gerard Pique).
A união entre carisma e futebol
Esta é a história de Ronaldo de Assis Moreira, ou Ronaldinho Gaúcho.
Ele fica marcado e continua a fazer história por fatores imensuráveis.
Faz história por tudo que deixou dentro de campo. Pelo jeito único de jogar futebol. Pelo sorriso e jeito irreverente sempre que pisava no gramado. Ronaldinho fez até aqueles que não se interessavam por futebol pararem para assistir seus shows.
Mais que isso. Dentro de campo, Ronaldinho Gaúcho era resultado. Um jogador extremamente vitorioso. Campeão de quase tudo que disputou, sendo Copa do Mundo, Copa América, Champions League e Copa Libertadores.
Já fora de campo, seu carisma segue o mesmo. Muito pelo fato de levar até as adversidades da vida com um sorriso no rosto, uma marca típica do povo brasileiro. Na verdade, ele é a incorporação do que é ser brasileiro, em muitos aspectos. Essa deve ser uma das razões pelas quais é difícil achar um ser humano que de fato desgoste da figura de Ronaldinho Gaúcho.
Qual será o próximo “rolê aleatório” do Bruxo?
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Escrito por Vitor F L Miller
1 Comentário. Deixe novo
Muito legal conhecer a história do Ronaldinho! ??????