Hoje na série heróis improváveis iremos contar a história de como o irreverente meia-atacante, Adriano Gabiru se tornou o herói do título mais importante do Sport Club Internacional de Porto Alegre, o Mundial de Clubes de 2006, conquistado em cima de nada mais nada menos que o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho.
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Início no Futebol Profissional
Carlos Adriano de Souza Vieira nasceu em Maceió, capital do Estado de Alagoas no dia 11 de agosto de 1977, sua carreira como jogador profissional se iniciou no ano de 1997 com 19 para 20 anos no CSA, tradicional clube da capital alagoana.
Logo em sua temporada de estreia se destacou principalmente por sua velocidade e capacidade física, com 1,72 de altura o jovem era muito ágil e veloz. Adriano com suas características ajudou o CSA a se sagrar campeão Alagoano de 1997, começando com pé direito sua jornada no futebol profissional, que convenhamos, ainda guardava conquistas fascinantes para o até então garoto.
Adriano continuou se destacando e passou a anotar mais gols e assistências, atuava as vezes pelos lados do campo, mas sempre habituado a jogar como uma espécie de segundo atacante, os bons jogos chamaram a atenção do Athletico Paranaense que o contratou em 1998.
O começo no Athletico foi complicado, afinal era a primeira vez que Adriano se distanciava de sua cidade natal, porém ele não desistiu e passou a evoluir muito no clube paranaense, exemplo disso foram as convocações constantes para a seleção sub-23 do Brasil nos anos de 1999 e 2000, inclusive marcando gol pela Amarelinha contra a Colômbia no Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano de 2000.
Com o treinamento forte e sua constante evolução Adriano passou a se ambientar bem no Athletico, inclusive ganhando seu apelido que carrega até hoje. Seu companheiro de equipe Flávio constantemente brincava com Adriano sobre sua aparência, e por ela não ser das melhores, o goleiro o apelidou de Gabiru, não precisamos nem dizer que o apelido pegou.
Esta ambientação foi preponderante também para Adriano passar a jogar mais no Furacão, ao todo foram 7 anos no clube paranaense, sendo emprestado em 2000 para o Olympique de Marseille e em 2004 apara o Cruzeiro. è verdade que Gabiru não era muito utilizado como titular, mas ajudou o Athlético nas conquistas dos estaduais de 1998, 2000, 2001 e 2002 e também num dos títulos mais importantes do clube, o Brasileirão de 2001, onde jogou com craques como Kleberson, Alex Mineiro e Kleber Pereira.
Após seus anos de Athletico, Gabiru foi contratado pelo Internacional em 2006.
Gabiru e Internacional, uma Relação de Amor e Implicância
Adriano Gabiru chegou em 2006 para compor o elenco recheado do Internacional, que contava com craques como Fernandão, Iarley, Clemer, Ceará, Jorge Wagner, Índio, Bolívar, Tinga, Rafael Sóbis e muitos outros. Logo em sua chegada se habituou bem ao colorado, principalmente por se dar muito bem com seus companheiros, vide o famigerado Perdigão, que é seu companheiro de “danone” (cerveja) até hoje.
No entanto a torcida Colorada não gostou muito de sua contratação, mesmo Adriano Gabiru já sendo multi campeão na carreira. De toda forma, Gabiru era esporadicamente utilizado, sobretudo saindo do banco para ajudar na recomposição tática, já que tinha um gás que não parecia acabar, além de sempre se mostrar um atleta extremamente aguerrido.
Gabiru, mesmo questionado pela torcida foi peça fundamental na conquista da Libertadores de 2006, uma vez que, junto ao meio-campista Michel, parecia ter total confiança do técnico Abel Braga, quando um não jogava o outro estava em campo, ou os dois juntos. Gabiru era de extrema iumportância para Abel pois, dentro da equipe Colorada, recheada de craques conseguia atuar em qualquer posição do meio campo exceto de primeiro volante, além de fazer também qualquer posição no ataque, uma vez quer aquele Inter jogava na maioria das vezes num 4-4-2 losango.
O Inter fez uma Libertadores de 2006 épica, o clube gaúcho era tido pela imprensa um dos únicos clubes com capacidade de bater o poderoso São Paulo, atual campeão da Libertadores e que viria a ser tricampeão Brasileiro (2006, 2007 e 2008). O Clube do Povo era tido também como uma grande potencia nacional no ano de 2006 pois fez ótima temporada em 2005, com o vice campeonato do Brasileirão, que para muitos, ou quase todos que acompanharam a vergonha da arbitragem brasileira naquele ano, consideram o Colorado como campeão.
O Colorado começou sua campanha na Libertadores disputando vaga nas oitavas no Grupo 6 com Nacional do Uruguai, Maracaibo da Venezuela e Pumas do México, não tiveram vida fácil e lutaram arduamente para conquistar o 1º lugar do grupo, que veio com 4 vitórias e 2 empates, em jogos emblemáticos como o 4×0 no Maracaibo, no qual Adriano Gabiru marcou o 1º da goleada e a histórica virada de 3×2 sobre o Pumas, no qual de peixinho o iluminado Gabiru sacramentou a vitória do Clube do Povo.
Mais adiante, nas oitavas o Inter acabou enfrentando o Nacional do Uruguai, velho conhecido dos colorados, na época, não havia sorteio para decidir os confrontos das oitavas de finais, mas sim a lógica de o melhor primeiro colocado da fase de grupo enfrentar o pior segundo colocado da fase de grupos, sendo assim, como o Inter foi o segundo melhor colocado e o Nacional o penúltimo segundo colocado, houve novamente o confronto, mas dessa vez valendo vaga para as quartas.
O Inter acabou decidindo sua passagem às quartas na vitória de 2×1 sobre o Nacional no Parque Central, Gabiru jogou esse jogo como titular, mas nessa ocasião brilhou a estrela de Wason Rentería, que marcou um gol antológico para selar a vitória Colorada por 2×1, após enfiada de bola de cabeça do Fernandão (eterno capitão colorado) Rentería domina a bola já dando um chapéu no defensor uruguaio e antes da bola cair encobre o goleiro com um lindo remate de esquerda. No Beira-Rio o Inter segurou o 0x0 e se classificou às quartas.
Nesta fase o Inter enfrentou LDU e enfrentou muitas dificuldades no Equador, perdendo o jogo de ida por 2×1, curiosamente o polivalente Gabiru não jogou esse jogo, no jogo de volta o Beira-Rio estava lotado, com a torcida fervorosa ajudando o Clube do Povo buscar o resultado, o que deu certo, com os gols de Rafael Sobis e Rentería, fato curioso desse jogo foi que o colombiano em sua comemoração se fantasiou de Saci, para loucura da torcida.
Já na semifinal o Inter enfrentou o Libertad, o jogo de ida no Paraguai foi extremamente truncado e acabou em 0x0, já no Beir-Rio as coisas foram diferentes e com os gols de Alex e Fernandão, ambos belos chutes de fora da área o Colorado após 26 anos voltava à final da Libertadores, que seria contra o temido São Paulo.
O primeiro jogo aconteceu no Morumbi, porém o Inter jogou como se estivesse em casa e ganhou do Tricolor por 2×1 com dois gols de Rafgael Sóbis. O jogo no Beira-Rio foi dramático, mas nada iria impedir que a América fosse pintada de vermelho, e com gols de Tinga e do Eterno Capitão Fernandão jogo terminou empatado em 2×2, fazendo com que Porto Alegre tremesse como nunca, Internacional campeão da Libertadores de 2006.
Gabiru foi muito importante na conquista, sobretudo por seu “trabalho sujo” e garra deixada em campo, mas mesmo assim, por alguns erros cometidos e por não ter um primor técnico tão aguçado a torcida Colorada parecia reconhecer seu valor, porém ainda pegava no seu pé.
Com a vitória o Inter se credenciou a disputar o Mundial de Clubes, onde competiu com os campeões continentais, Barcelona (Espanha), Al-Ahly (Egito), América do México, Auckland City (Nova Zelândia) e Jeonbuk Motors (Coréia do Sul).
No entanto o Colorado ainda tinha 6 meses pela frente até chegar à disputa continental, e seguia jogando o Brasileirão, fazendo boas e más atuações. Abel Braga, seguia utilizando Gabiru, porém a torcida pedia para que não usasse, a pressão era tamanha para descredibilizzarf o aguerrido alagoano, ainda mais que parte da torcida entendia que o jovem Alexandre Pato, recém subido das categorias de base deveria ter mais tempo dentro de campo.
O tempo passou, as críticas a Gabiru não cessaram, porém ele continuava a trabalhando e sendo uma opção para o Abelão, que confiava muito em seu potencial.
Além disso o Inter sofrera algumas atuações em seu elenco, perdeu jogadores importantes como Rafael Sobis e Rentería, porém trouxe Iarley para tomar conta da camisa 10 colorada e subiu os jovens Pato e Luiz Adriano.
O Mundial de Clubes chegou e uma onda vermelha tomou as ruas do Japão, tamanho o apoio de diversos Colorados que saíram do Brasil rumo a terra do sol nascente para apoiar o CLube do Povo, que não teria vida fácil caso passasse ás finais, uma vez que quem estaria lá provavelmente seria o magistral Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, que ganhou a Champions com gol de outro herói Improvável, o lateral direito Beletti.
O primeiro jogo do Internacional no Mundial foi contra o egípcio Al-Ahly, e enganou-se quem pensou que o Colorado teria vida fácil, foi um belo jogo de semifinal de Mundial, o Inter começou melhor e sufocando os egípcios, inclusive abrindo o placar com o jovem Alexandre Pato aos 23 do primeiro tempo, porém o time africano não queria ficar para trás e começou a jogar bem, inclusive forçando boas defesas do goleirão Clemer, Flávio, brasileiro que atuava no Al-Ahly empatou de cabeça.
O jogo foi ficando cada vez mais aberto mas os times acabavam pecando em suas finalizações, até que aos 27 minutos do segundo tempo após cobrança de escanteio outro garoto, dessa vez Luiz Adriano antecipa no primeiro pau e raspa a bola de cabeça com precisão até ela morrer no cantinho do goleiro egípcio, classificando assim o Inter a final contra o Barcelona.
O dia tão esperado chegou, de um lado o time do momento, badalado na Europa e no Mundo, com craques como Deco, Beletti, Puyol, Ronaldinho Gaúcho, Iniesta, Giuly dentre outros e do outro o aguerrido e raçudo time de sangue vermelho, com Pato, Fernandão, Iarley, Alex, ìndio, Ceará dentre outros, porém, nenhum desses seria a maior atração desse jogo, que estava reservada para o quieto alagoano que começou vendo o jogo do banco.
O juiz apitou e a bola rolou, no início ambas as equipes tentavam toma a iniciativa, o Barça procurando muito Ronaldinho, enquanto o Inter apostava na rápida tomada da bola e trransição com passes rápidos, até os 20 minutos o Inter era melhor, porém não teve grandes chances de gol, assim como o Barcelona nos minutos seguintes do 1º tempo, a não ser num chute forte de fora da área que Von Bronchost tentou e Clemer defendeu meio que no susto após repentino efeito na bola.
Mesmo com a melhora do time blaugrana, o Inter continuava a achar espaços nas costas da defesa, e numa dessas após boa enfiada de bola o zaguirão Índio recebe na área pela direita e solta bomba rente a forquilha do gol defendido por Valdés, quase que o Colorado abre o placar.
O segundo tempo começou com o Inter claramente mais fervoroso, buscando matar as jogadas do Barça com rapidez e tendo diversas chances de abrir o marcador, porém estava pecando muito nas finalizações, as que iam para o gol eram alvos fáceis para o bom goleiro espanhol Valdés. Como o Inter não conseguiu marcar e estava em alta rotação, naturalmente o time cansou e a partir dos 30 minutos passou a dar mais espaço pro Barcelona jogar, o que foi um perigo.
Xavi entrou muito bem em campo e passou a segurar a bola no campo de ataque, dificultando e muito a marcação Colorada, vendo a dificuldade que o Inter passara a ter, Abelão pensa rápido e saca o Eterno Capitão Fernandão que já não estava bem fisicamente para a entrada do iluminado Gabiru, com o nítido objetivo de ajudar na marcação e intensidade pelo lado esquerdo colorado.
O Barça estava muito superior nesse momento do jogo, porém deixava muito espaço entre o meio de campo e a defesa para o Inter atacar quando recuperava a bola, e quem conseguiu explorar muito bem isso foi o baixinho Iarley, que aos 32 minutos pegou essa bola no meio nas costas dos meio-campistas catalães e foi carregando até a entrada da área, porém errou na hora do chute, o caminho estava ali.
Até que aos 35 minutos do 2º tempo Índio afasta uma bola de trás, Agriano Gabiru desvia de cabeça, Luiz Adriano desvia mais uma vez a bola, que chega para o craque Iarley, Puyol sobe para roubar a bola porém o atacante descola um lindo drible por debaixo das pernas do espanhol, acompanhando a jogada, Gabiru dispara pelo meio;
Iarley levanta a cabeça e vê a insinuação do alagoano, que domina a bola jogando a para frente e na saída de Valdés ele dá um toque sutil com a parte externa de seu pé direito que encobre na medida certa o goleiro, que gol, que alegria, que perfeição, gol dele, mostrando que ele tinha sim a técnica que a torcida sempre pedia.
A emoção do gol foi imensa, porém o Inter tinha que segurar o Barça por pelo menos mais 10 minutos, e conseguiu, muito também pela ajuda do incansável Gabiru, que se tornou um dois maiores heróis improváveis da história do Futebol, primeiramente por não ter mídia ou ser badalado e principalmente por ver em sua frente a desconfiança da torcida que ele viria a dar a maior alegria do Mundo.
Em entrevista, Gabiru, ao lado de seu fiel escudeiro Perdigão, relembra o gol decisivo com muito humor e humildade: ” No futebol, todo mundo é igual, ninguém é diferente”. … “O Índio deu um chutão, eu raspei na bola, o Luiz Adriano raspou na bola e sobrou pro Iarley contra o cabeça de piolho (Puyol), ele foi levando, foi levando e eu saí de trás e fui correndo, graças a Deus, daí ele viu, passou para mim e eu chutei no gol”. … “Quando a bola entrou eu pensei meu Deus, Perdigão, vamos tomar tanta cerveja hoje”.
E assim é Adriano Gabiru, um herói Improvável, irreverente, amigo, aguerrido e mais do que tudo, humano, como qualquer um de nós.
Escrito por João Felipe Miller
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