Por Marta Elena Casanova
Siga-nos nas redes sociais para se manter atualizado sobre as últimas notícias do mercado: Instagram, Facebook e X.
Index
Nos últimos anos, assistimos a uma verdadeira invasão silenciosa no mundo do futebol: a dos fundos de investimento. Clubes históricos foram comprados por empresas financeiras, com operações bilionárias entre Europa e Estados Unidos, e uma nova visão do futebol como ativo econômico de longo prazo. Mas por que os fundos estão apostando tanto no futebol? O que eles ganham com isso? E o que o torcedor arrisca?
Fundos no futebol: uma tendência em alta
Desde 2020, o futebol europeu se tornou terreno fértil para fundos de investimento, private equity e grandes grupos financeiros. Na Série A italiana, vimos o fundo Oaktree assumir o controle da Inter, a RedBird comprar o Milan e a 777 Partners adquirir o Genoa. Na França, o PSG já está há anos sob o controle do fundo soberano do Catar, e a Premier League também não foge à regra: quase metade dos clubes têm donos financeiros.
Esse crescimento não é por acaso: os fundos enxergam no futebol uma oportunidade única. Os clubes, muitas vezes endividados, mas com grande apelo popular e potencial comercial, são vistos como empresas a serem reestruturadas e valorizadas — para depois, talvez, serem revendidas por um valor muito maior. Um clássico modelo de investimento.
Por que o futebol atrai fundos?
Há pelo menos três razões principais pelas quais os fundos miram o futebol. Primeiro, o valor da marca e a base global de fãs. Um clube não é apenas um time: é uma marca. Milan, Inter, Roma — só para citar alguns — têm milhões de torcedores ao redor do mundo. Isso é ouro para quem quer monetizar com merchandising, direitos de transmissão e patrocinadores.
Depois, há a valorização patrimonial: um fundo pode aumentar o valor do clube ajustando as finanças, construindo um estádio, investindo nas redes sociais ou em novos canais de distribuição (streaming, NFTs, etc.). Em 5 a 10 anos, o valor pode dobrar.
Por fim, há a estabilidade de longo prazo: apesar das crises, o futebol é um dos poucos setores com público fiel. Quem investe busca ativos pouco voláteis — e torcedor fiel é mais estável que cliente comum.
O risco do endividamento: os casos de Bordeaux, Málaga e Genoa
O outro lado da moeda é o modelo de operação de alguns fundos: crescimento via endividamento agressivo, sem um plano esportivo sustentável. Alguns casos se tornaram emblemáticos:
- Girondins de Bordeaux: comprado em 2018 pelo fundo americano GACP, acumulou mais de 60 milhões de euros em dívidas em apenas dois anos. Após a pandemia, sem conseguir sustentar os custos, quase foi rebaixado administrativamente. Foi salvo temporariamente por um novo aporte do fundo King Street, que depois abandonou o projeto. O clube decretou falência em julho de 2024 e reiniciou na terceira divisão francesa.
- Málaga CF: adquirido em 2010 por investidores do Catar liderados pelo xeque Abdullah Al-Thani, viveu uma breve era de sucesso (com semifinal de Champions em 2013), mas sem base financeira sólida. Em cinco anos, a dívida chegou perto dos 100 milhões de euros. O clube teve que vender seus principais jogadores e caiu para a Segunda Divisão. Hoje está sob administração judicial.
- Genoa CFC: exemplo italiano. Com a chegada da 777 Partners em 2021, iniciou-se uma reestruturação. O fundo herdou cerca de 30 milhões em dívidas e prejuízos operacionais. Injetou liquidez nos primeiros 18 meses para conter a situação, mas o modelo mostrou ser arriscado sem resultados esportivos. Em 2024, pouco mais de três anos após a aquisição de Enrico Preziosi, a 777 declarou falência. O Genoa não era o único ativo do grupo: Vasco da Gama, Standard Liège e Hertha Berlim também faziam parte do portfólio. O clube foi comprado pelo empresário romeno Dan Șucu.
Um novo futebol?
O futebol do futuro pode parecer cada vez mais com uma plataforma financeira: marcas globais, clubes satélites, análise de dados e retorno sobre investimento (ROI). O torcedor se torna mais espectador que protagonista. O lado negativo é o distanciamento da paixão e da identidade. O foco nos números pode gerar resultados, mas também afasta a essência do futebol.
No entanto, nem tudo é negativo: bem geridos, os fundos podem trazer estabilidade financeira, infraestrutura moderna e gestão profissional.
Os fundos de investimento estão mudando as regras do jogo. Atrás das bandeiras, hoje estão os balanços e estratégias globais. Entender esse fenômeno — incluindo os casos Bordeaux, Málaga e Genoa — é essencial para quem ama o futebol e quer saber quem realmente comanda o jogo hoje.
Por Marta Elena Casanova