Buffon: O Maior Goleiro Da História

Gianluigi Buffon

Gianluigi Buffon anunciou sua aposentadoria aos 45 anos de idade.

O multicampeão, com sua liderança incontestável e carreira longeva encerra sua jornada no futebol como um dos maiores goleiros da história.

Início de carreira precoce no Parma

Buffon apareceu para o futebol com apenas 17 anos, quando fez seu primeiro jogo com o Parma em 1995, no empate em 0x0 com o Milan pela Serie A, no qual foi escolhido o melhor jogador da partida. Depois de operar milagres e garantir o empate contra os Rossoneri, à época tricampeão italiano.

O técnico Nevio Scala relembrou da estreia de Buffon em entrevista para a Goal.com: “Buffon fez uma partida extraordinária, mas não comemorou. Mesmo depois do jogo, ele agradeceu ao técnico e ao clube pela confiança depositada. Isso foi sua força. Era como se ele tivesse feito a coisa mais normal no mundo. Talvez como se ele não tivesse percebido o que tinha feito. Ele tinha grandes qualidades técnicas, mas, acima disso, uma incrível força interna”

Já na temporada 96-97 o Parma se tornava o vice-campeão italiano e Buffon já era o titular absoluto da equipe. Na temporada 98-99 conquistou Copa da Uefa, Copa da Itália e Supercopa Italiana, além de ser eleito o melhor goleiro da Serie A pela primeira vez em 1999, terminando assim indicado à Bola de Ouro.

As boas atuações pelo Parma chamaram a atenção dos grandes clubes europeus. Apesar do interesse do Barcelona, foi a Juventus quem o contratou. Em julho de 2001, o time de Turim desembolsou cerca de 52 milhões de euros para contar com o jogador, na época a transferência mais cara por um goleiro.

Buffon - Parma

(Foto: Reprodução)

O legado de Buffon na Juventus

Em sua chegada na Juventus, em 2001, foi inserido imediatamente no time titular e conquistou os dois Campeonatos Italianos seguintes, 2001-02 e 2002-03. Em sua segunda temporada, além do Scudetto, ajudou a Velha Senhora no vice-campeonato da Champions League, que ficou para o Milan. O arqueiro foi capaz de segurar o empate, mas acabou vencido por Dida nos pênaltis, mesmo pegando duas cobranças. Para coroar a temporada fantástica, foi eleito o melhor goleiro do mundo pela UEFA.

Nas temporadas seguintes, o clube mais popular da Itália continuava imparável e conquistou o Scudetto em 2004-05 e 2005-06, contudo teve esses títulos revogados e foi rebaixada pela primeira e única vez para a Serie B, por conta do Calciopoli, escândalo do campeonato italiano que, após investigações de 2004 a 2006, revelou esquemas de pressões em árbitros, além de ameaças e entrega de presentes, para obtenção de resultados,

Com a mancha na história do clube, a Juventus sofreu com a debandada geral. Dona de jogadores importantes na Copa do Mundo de 2006, a equipe perdeu Fabio Cannavaro, Zambrotta, Vieira, Thuram, Emerson e Ibrahimovic, entre outros protagonistas. Buffon foi um dos únicos craques a preferir permanecer, ao lado de Del Piero e Nedved, além de Trezeguet que, embora tenha demonstrado interesse em ser vendido, seguiu no elenco.

A partir de então, os torcedores juventinos passaram a venerar não somente seus constantes milagres na meta do clube. Respeitar a instituição acima de tudo, mesmo com o risco de ficar com o nome na lama em meio ao escândalo, caracteriza muito mais a sua idolatria.

Em entrevista em 2015, o arqueiro relembrou da permanência no clube: “Eu vou junto com a Juve para a Série B porque eu pensava em vocês [torcedores]. Pensava em vocês porque eu acredito firmemente que, em certos momentos, você precisa substituir as palavras pelas ações. E, considerando que no futebol e em todos os âmbitos há pessoas que adoram fazer pregações e depois se comportar de maneira ruim, eu decidi não falar muito e vi que era uma bela oportunidade de mandar uma mensagem àqueles que queriam recebê-la”

Com a conquista da Serie B, o momento de maior indagação sobre Buffon aconteceu após a volta da Juventus para a Serie A. O veterano ainda recebeu o prêmio de melhor goleiro do campeonato em 2007/08, mas sua melhor fase parecia ficar para trás. Já não era espetacular como antes, sua explosão embaixo das traves vinha se perdendo num período em que a Velha Senhora ficava como coadjuvante na liga nacional e as lesões se tornavam mais costumeiras, mas não demoraria para que ele provasse aos céticos como estavam redondamente enganados.

A carreira de Buffon pode ser dividida em duas fases principais, antes e depois de 2011. O goleiro já tinha se consolidado como um dos melhores da história em sua juventude, com destaque para o título da Copa de 2006. Dessa maneira a versão mais vitoriosa e mais firme do camisa 1 aconteceu na última década, com uma hegemonia protagonizada pela Juventus, que novamente dominou a Serie A, como nunca tinha acontecido antes na história do campeonato.

O ídolo conquistou 7 Campeonatos Italianos em sequência e terminou eleito como o melhor goleiro da Serie A em cinco deles. O primeiro título (2011-12) desde o retorno para a primeira divisão, representava o início de uma nova era no futebol italiano.

Buffon liderou uma defesa que sofreu apenas 20 gols, numa campanha invicta e que ainda o alçou como capitão diante da saída de Alessandro Del Piero. A partir de então, a visão de que o goleiro estava de volta ao seu auge imperou enquanto ele continuou em Turim. Chegou a bater inclusive o recorde de mais minutos consecutivos sem levar gol do futebol italiano, com 974 minutos sem sofrer gols em 2016.

O veterano bateu na trave no sonho de conquistar a Champions League em mais duas ocasiões. Em 2014-15 perdeu o título para o Barcelona, enquanto em 2016-17 a derrota veio na goleada para o Real Madrid.

Em 2018 Buffon foi transferido para o Paris Saint-Germain, onde não teve muito destaque, pois apesar da conquista da Ligue 1, rendeu abaixo do esperado e chegou a falhar na competição continental.

Após 1 ano, o ídolo retorna para a Juventus, agora com status de reserva. O goleiro aceitou ter um papel de coadjuvante no clube em que era lenda. Estava ali para auxiliar os antigos companheiros em novas conquistas e também a transição no gol com a presença de Szczesny. Gigi sequer aceitou a camisa 1 e não criou qualquer tipo de caso por ficar no banco de reservas. Parecia mais do que satisfeito em viver o ambiente da Velha Senhora e continuar fazendo o que tanto amava.

Em 2021 seu ciclo na Juventus se encerrava, se tornando um dos maiores ídolos da história do clube, o jogador com mais títulos de Campeonato Italiano (10), além do segundo atleta com mais jogos pela equipe.

Em sua despedida, ele declarou: “Gostaria de resumir este dia incomum para mim, cheio de emoções, mas que eu trato com calma, felicidade e uma sensação de saciedade. É a conclusão de uma belíssima jornada, que tive a sorte de compartilhar com pessoas que realmente se importavam comigo. Eu senti isso, dia após dia, e por causa desse amor eu lutei, tentando fazer o meu melhor. Sábado será meu último jogo pela Juventus. Eu acho que esta é a melhor maneira de acabar essa aventura maravilhosa”.

Aos 43 anos, Buffon acertava seu retorno ao Parma, após duas décadas.

Buffon acerta retorno à Juventus para jogar só um ano e depois virar diretor - ESPN

Foto: Getty

O bom filho a casa torna

Seu retorno ao Parma é bastante simbólico, não apenas pela idolatria, mas pela forma como insistia em demonstrar seu amor pelo clube. Tinha vontade de viver tudo aquilo uma vez mais, mesmo que a Serie B se apresentasse como um desafio longe do glamour. Queria também que seus filhos o vissem jogando pelo Parma, não apenas ouvissem suas histórias.

Em sua chegada o Parma havia acabado de ser rebaixado para a Serie B, dessa forma Gigi Buffon tinha como missão colocar o Parma de volta na Serie A. Na primeira temporada, o time ficou apenas na 12ª colocação, contudo no ano seguinte o Parma foi o quarto colocado da Serie B e foi aos playoffs do acesso. Na semifinal, em sua última partida da carreira, perdeu o jogo de ida por 3 a 2 para o Cagliari e empatou por 0 a 0 em casa.

Buffon lamentou muito o resultado, mas reiterou o apoio da torcida de seu time do coração: “Há derrotas que deixam apenas um sentimento de perplexidade e uma profunda solidão. E há derrotas que, pelo contrário, nos fazem sentir rodeados por milhares de braços, onde as lágrimas representam, na verdade, várias sementes”,

O goleiro reiterou sua paixão pela torcida do Parma: “Há algo que te une estranhamente para além do resultado esportivo, te fazendo parecer com todos aqueles olhares que encontra, te fazendo sentir que pertence ao que lhes pertence. Uma consciência que foi crescendo com o tempo, como um cordão umbilical que conecta a todos, feito de paixão, respeito, gratidão, corações e mãos que realmente sabem se apoiar”

Em suas duas passagens pelo Parma, o arqueiro disputou 265 partidas e conquistou o respeito e os corações dos torcedores que o acompanharam durante a fase mais vitoriosa da história do clube, na década de 90.

Buffon anuncia aposentadoria aos 45 anos | futebol internacional | ge

Foto: Serie A

Recordista e campeão do mundo pela Itália

A história de Buffon com a Azzurra vinha desde as categorias de base, com direito a vices no Europeu Sub-16 e no Europeu Sub-19, já em 1996, o camisa 1 conquistou o Europeu Sub-21 e também esteve presente nos Jogos Olímpicos. Seu alto nível pelo Parma o levou a estrear pela seleção adulta em outubro de 1997. Foi logo decisivo nas Eliminatórias para a Copa de 1998, com grande atuação na repescagem diante da Rússia, mesmo num gramado destruído pela neve.

Em sua primeira Copa do Mundo, em 1998, foi reserva e já figurava entre os melhores goleiros do mundo com apenas 20 anos. Na Euro de 2000, Gigi seria o goleiro titular, porém sofreu uma fratura na mão às vésperas da estreia e acabou cortado da campanha que rendeu o vice-campeonato à Azzurra.

Na Copa de 2002, Buffon, apesar de jovem, já era uma das principais lideranças da equipe. A Itália foi eliminada nas oitavas de final para a Coréia do Sul em um jogo cercado de polêmicas de arbitragem. Logo nos primeiros minutos, o juiz assinalou pênalti, Ahn Jung-Hwan cobrou no canto, mas Buffon fez uma defesa espetacular.

A Itália perdeu o jogo por 2 a 1, sendo eliminada no gol de ouro realizado na prorrogação, contudo a Copa de 2006 seria diferente para o povo Italiano.

Buffon ficou em xeque às vésperas do Mundial, investigado por um possível envolvimento com o Calciopoli. Embora tenha admitido que fizesse apostas esportivas em outras ligas, seria inocentado das acusações pessoais por manipulação de resultados. No mundial passou 453 minutos da competição sem ser vazado, da fase de grupos à final, realizando 40 defesas no total. Levou apenas dois gols durante os sete jogos da competição.

Ao longo daquela Copa, Buffon recebeu o prêmio de melhor em campo contra a Austrália e realizou um milagre contra Lukas Podolski na épica semifinal contra a Alemanha. Sua consagração definitiva, no entanto, se deu na final, na cabeçada de Zinédine Zidane na prorrogação, que poderia definir o jogo.

No fim do Mundial, ele foi eleito o melhor goleiro da competição de acordo com o Conselho Técnico da Fifa, e junto de Cannavaro foi o italiano a estar em campo em todos os 690 minutos da campanha vitoriosa.

Nas Copas de 2010 e 2014 as quedas precoces impediram o goleiro de construir uma história ainda mais grandiosa no torneio que disputou por 5 vezes.

Na Eurocopa, esteve entre os melhores da posição em 2008, antes de liderar a Azzurra rumo à final em 2012, com o troféu perdido para a Espanha de Iker Casillas.

A última dança de Buffon na seleção foi marcada pelo fracasso de não chegar na Copa de 2018. O empate em 0 a 0 com a Suécia em Milão deixou a Itália fora da Copa do Mundo, e o ídolo não segurou as lágrimas para anunciar sua saída da Seleção após o fracasso nas eliminatórias.

“É difícil terminar assim. Temos orgulho, força. Nos levantaremos como sempre fizemos. Eu deixo um abraço para todos, especialmente para os que compartilharam esse tempo comigo. Não sinto muito por mim, mas por todo o futebol italiano. Nós falhamos.” disse Buffon.

O goleiro é o jogador com mais participações na história da Itália, 176 partidas. Foram 20 anos de seleção, numa história que começou em 1997 quando o então treinador Cesare Maldini chamou o promissor goleiro que atuava no Parma pela primeira vez. A estreia aconteceu no dia 29 de outubro daquele ano, no empate em 1 a 1 com a Rússia, pelas eliminatórias para o Mundial de 1998.

Outra marca que demonstra bem a qualidade do Gigi é a de um dos únicos goleiros, junto a Roy Clemence a ficar mais de 500 partidas sem levar um gol, simplesmente Gianluigi Buffon, a representação perfeita de guardião supremo do gol.

Só ele ficou! Com aposentadoria de De Rossi, Buffon é o único italiano campeão do mundo de 2006 na ativa Jornal MEIA HORA - Esportes

Reprodução/Twitter

Siga-nos nas redes sociais para ficar por dentro dos próximos lançamentos da seção ProtagonistasInstagramFacebook e Twitter.

Escrito por Henry Miller.

Artigos Mais Recentes
Tags: Em evidência, Protagonistas

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.