O Fluminense, depois de 121 anos de fundação, é campeão da Copa Libertadores da América.
O Tricolor das Laranjeiras venceu o Boca Juniors, por 2×1, no Maracanã, na prorrogação.
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O trajeto do Fluminense até a final
Não foi fácil chegar até a final. Estamos falando da maior competição de futebol em nível técnico, fora da Europa. Quando o assunto é a dificuldade de enfrentar adversários tradicionais, torcidas apaixonadas e arbitragens fracas, esse é, sem dúvida, o torneio mais difícil do mundo.
O trajeto do Fluminense, além da dificuldade natural, ainda contou com adversários altamente capacitados em seu caminho. Figurando no Grupo D, junto de River Plate, Sporting Cristal e The Strongest, os comandados de Diniz sabiam que não teriam vida fácil.
O time estreou fora de casa, contra o Sporting Cristal, no Peru.
A equipe bem treinada por Thiago Nunes, chegou a abrir o placar, mas não pôde segurar a pressão dos cariocas. O Fluminense virou o jogo com dois gols de Cano e um de Vitor Mendes, finalizando a partida em 3×1.
A rodada seguinte foi a vez de saudar o torcedor dentro de sua casa, o Maracanã. O oponente foi o The Strongest. Se em outros tempos os bolivianos davam trabalho apenas na altitude, hoje é diferente. Fizeram um bom jogo, mas Nino, o zagueiro artilheiro, garantiu a vitória do Flu por 1×0.
Foi no choque entre os dois tradicionais do grupo, que o Fluminense mostrou onde poderia chegar. Aplicou uma sonora e histórica goleada de 5×1 sobre o River Plate, no Maracanã. O time fez uma das grandes atuações de sua história. Cano fez um hat-trick, acompanhado de dois gols de Arias. A dupla foi espetacular.
Imagem: Marcelo Gonçalves/FFC
Na quarta rodada, um susto. O The Strongest devolveu o resultado do Maracanã, e venceu na altitude boliviana por 1×0. Com a derrota, o grupo começou a se embolar.
A situação se tornou ainda mais complicada quando o River Plate saiu vencedor do confronto contra o Fluminense, no Monumental de Nunez, por 2×0.
Com isso, os times do Grupo D foram para a última rodada com chance de classificação. O Fluminense apenas empatou com o Sporting Cristal, em casa, por 1×1. Já o River Plate, venceu o The Strongest, em Buenos Aires.
Ambos os resultados foram suficientes para classificá-los ao mata-mata.
O Fluminense se classificou em primeiro lugar do grupo, com 10 pontos. Mesma pontuação do River, mas com um saldo de gols superior.
Pelas oitavas de final, o Tricolor Carioca tinha pela frente o time do Argentino Juniors, uma boa equipe, à época, treinada por Gabriel Milito.
No jogo de ida, 1×1. Contudo, o lance mais marcante da partida foi a lesão do jogador Luciano Sanchez, que teve um fratura gravíssima, depois que Marcelo, acidentalmente pisou em sua perna.
No Maracanã, os argentinos bem que tentaram, mas o Fluzão venceu a partida por 2×0 e avançou para as quartas.
O oponente seguinte foi o Olímpia, que havia eliminado o Flamengo, maior rival do Fluminense, de maneira heroica pelas oitavas de final.
Apesar disto, o Tricolor de Diniz foi cirúrgico. Venceu a primeira partida, em casa, por 2×0. No Paraguai, com o Defensores del Chaco absolutamente lotado, aplicou 3×1, com atuações de gala de Cano e John Kennedy. Sem chances para o tricampeão Olímpia.
Pelas semifinais, confronto entre brasileiros. Sem dúvida, o choque mais emocionante de toda a Copa Libertadores 2023. Internacional e Fluminense fizeram dois jogos espetaculares, com show das torcidas e dos jogadores dentro de campo.
Na primeira partida, no Maracanã, o jogo começou pegado, com chances para ambos os lados, mas foi o Flu quem abriu o placar.
No final do primeiro tempo, Samuel Xavier foi expulso e mudou a cara do jogo. O Inter soube explorar o homem a mais, e virou a partida. Contudo, Cano estava em um daqueles dias, e marcou dois gols para garantir o empate.
O segundo jogo, no Beira-Rio, tudo parecia perdido. O Inter abriu o placar no início da partida e acumulava chances para ampliar e matar a partida, principalmente com Enner Valencia.
Embora tivesse finalizações perigosas, o Internacional não definiu a partida, deixando o jogo em aberto.
Assim, a dez minutos do fim da partida, a dupla Cano e Kennedy resolveu a parada e levou o Fluminense à final.
Imagem: MAURO PIMENTEL / AFP
A final entre Fluminense e Boca Juniors
De um lado, a chance de se igualar ao Indepiendente como o maior campeão da Libertadores. Do outro, uma equipe com ampla tradicional nacional, mas que no cenário internacional, não possui, ou pelo menos possuía, a mesma carga de outros times brasileiros.
Quando o assunto era tradição na competição, tudo indicava para uma vitória tranquila dos argentinos.
Mas quando o assunto era qualidade técnica, tática e entendimento do jogo, o triunfo dos brasileiros parecia evidente.
Qual das virtudes sairia vencedora? A resposta já sabemos.
O primeiro tempo, não foi muito cheio de emoção, é verdade.
Como era de se esperar, o Boca Juniors utilizou uma marcação acirrada, buscando fechar os espaços e pressionando a bola, alternando entre pressões altas, baixas e médias.
A solução encontrada por Fernando Diniz era imprimir uma rápida troca de passes, por meio de triangulações e ultrapassagens, sobretudo pelos lados do campo.
Tais disposições táticas se mostraram evidentes ao 35′ de partida. Diniz contrariou o obvio, que seria Keno aberto de um lado e Arias de outro.
Ambos os jogadores, de extrema qualidade técnica, velocidade e força física, se aglutinaram pelo lado direito do ataque tricolor. Com uma rápida troca de passes entre eles e Samuel Xavier, que chega com muita força no apoio, Keno dá uma linda assistência para o homem gol, Germán Cano.
O argentino, com seu tradicional faro de gol, chutou de primeira para abrir o placar.
Na segunda etapa, o Boca Juniors inverteu os papéis. Procurou ter mais a bola e pressionar o Fluminense.
O Tricolor, por sua vez, passou boa parte do segundo tempo recuado, o que fez com que o Boca crescesse na partida. A questão mais negativa foi que, mesmo com o bloco extremamente baixo e com jogadores disponíveis para marcar os argentinos, a equipe carioca apresentava uma marcação frouxa.
Foi assim que Advincula, recebe a bola aberto, carrega para o meio com muita tranquilidade e espaço, para bater de esquerda, no cantinho. Os Xeneize empatavam a partida, aos 72′
O jogo se manteve truncado até o fim do tempo regulamentar, salvo uma bela finalização do Boca, que passou raspando na trave de Fábio.
No fim da partida, Fernando Diniz colocou John Kennedy em campo, o que mudaria os rumos da competição.
Aos 99′, o predestinado, John Kennedy, recebe passe de cabeça de Keno. A bola sobra limpa para o garoto de 21 anos encher o pé e fazer o gol do título.
Na comemoração, a emoção que tomou conta. Kennedy atravessa todo o campo para abraçar os torcedores do Fluminense, mas o juiz Wilmar Roldán, aplicou o segundo cartão amarelo e expulsou o jovem.
Será que o Flu teria capacidade de segurar o resultado com um jogador a menos?
O Tricolor das Laranjeiras contaria com a ajuda de um jogador do Boca Juniors. Fabra, que em diversas oportunidades praticou atos absolutamente antidesportivos, para falar o mínimo, mais uma vez o fez.
Pela Libertadores de 2020, quando o Boca Juniors tomava um baile do Santos pela semifinal, Fabra pisou na barriga de Marinho, em um lance assustador.
Novamente, o lateral não soube encarar a derrota, como de praxe, e deu um tapa na cara de Nino.
O árbitro, Wilmar Roldán, aparentemente viu o lance, mas aplicou apenas o cartão amarelo, o que seria um absurdo. Felizmente, o VAR interviu e indicou que o atleta deveria ser expulso.
Desta forma, ambas as equipes ficaram com 10 jogadores para o segundo tempo da prorrogação.
Depois disto, o Boca Juniors pouco conseguiu agredir o gol do Fluminense.
Com o apito final; ápice no Maracanã. O Fluminense conquista a América pela primeira vez em sua história.
Imagem: Esporte News Mundo
Cano, Diniz e Kennedy
Claramente, cada um dos jogadores, funcionários e comissão técnica do Fluminense, foram preponderantes para a conquista do título mais importante da história do clube. Porém, estes três nomes citados acima podem ser considerados os pilares da conquista. Entenda a razão.
Cano
Imagem: Lucas Merçon/FFC
O argentino mais brasileiro. Germán Cano é forte candidato a Rei da América de 2023.
Ele foi simplesmente avassalador na competição. Finalizou o torneio com mais gols que jogos. Foram 13 bolas nas redes em 12 partidas. Artilheiro disparado.
Marcou nos momentos decisivos, fez hat-trick e além de tudo foi um leão na marcação.
Um jogador sem vaidade, se doou para o time em todos os momentos. Mesmo sendo centro avante, não era raridade ver Cano no campo de defesa do Fluminense, cobrindo espaços e marcando com força.
Simplesmente, fundamental em todos os sentidos.
Diniz e Kennedy
Imagem: REUTERS/Sergio Moraes
O destino dos dois estava ligado.
Diniz é coragem. Mais que isso. Coragem alinhada ao estilo revolucionário de jogar futebol.
Num mundo onde o jogo posicional é regra, ele inverte a lógica e consegue desempenhar um ótimo futebol com as trocas frequentes de posição e movimentações nos espaços, aflorando o lado intuitivo dos jogadores.
Contudo, seu papel como treinador vai além das quatro linhas. Formado como psicólogo, ele consegue ver além do atleta, e chega até o ser humano. Buscando entender a trajetória e história de cada um dos jogadores, que geralmente, num país como o Brasil, possuem um passado sofrido.
Com Johm Kennedy não foi diferente. No ano de 2022, o carro do jogador com apreendido, com dois tabletes de maconha.
Kennedy, sequer estava presente no momento da apreensão, mas este enredo já foi suficiente para a diretoria Tricolor rotulá-lo como “menino problema”.
Em 2023, foi emprestado à Ferroviária, onde fez um ótimo Campeonato Paulista, se tornando elegível a voltar ao clube.
Fernando Diniz, por outro lado, sempre demonstrou grande apoio a Kennedy, e disse em entrevista, ainda em 2022, que o rapaz daria a volta por cima, além de tocar em questões sociais e psicológicas muito interessantes.
Fato é que John Kennedy marcou gol em todas as fases de mata-mata da Libertadores, sendo preponderante para a conquista do título.
O episódio mais marcante da final, foi antes da entrada para a prorrogação. Fernando Diniz chama John Kennedy, e ao seu melhor estilo, aos berros, diz as seguintes frases:
“Tu pode fazer história para América. Só tem um que leva o título e você vai fazer o gol do título!”
Imagem: CARL DE SOUZA / AFP
Como se não bastasse, circulam áudios na internet, em que John Kennedy responde aos amigos se estaria nervoso com a final.
Ele teria dito que tinha certeza que faria o gol do título.
O desfecho foi como profetizado por Diniz e Kennedy. Hoje, o Fluminense pode dizer que é Campeão da Libertadores da América!
Parabéns, Fluminense!
Imagem: Comenbol
Escrito por Vitor F L Miller.