Iniesta: O Mágico

A despedida emocionante

Iniesta promoveu um evento após anunciar sua aposentadoria. Ele reuniu personalidades do Barcelona e do futebol espanhol e se emocionou ao dar adeus à carreira de atleta. Ele pretende continuar no futebol, trabalhando como técnico.

– O futebol termina nesta fase, mas o jogo continua. Não posso estar muito longe do futebol, tem sido a minha vida e continuará sendo. Estamos trabalhando em diferentes projetos. E já estou iniciando o curso como treinador. O resto é história: títulos, derrotas, momentos ruins… mas orgulho e nunca desistir é o que me deixa feliz. Queria ter jogado até os 90, mas estou feliz por ter realizado o sonho de ser jogador — disse o astro espanhol.

Foto: Reuters

Iniesta também reforçou o desejo de retornar ao Barcelona, clube em que viveu grande parte de sua carreira.

– Gostaria de voltar ao Barça. Quem marcou este clube tem que estar lá, mas tem que estar com condições. Cada profissional é único. O meu perfil de trabalho será o perfil do Iniesta.

Uma vida no Barcelona

Os primeiros passos de Iniesta no futebol foram com o Barcelona, em La Masia, nas categorias de base do clube catalão. 

Chegou no Barcelona em 1996, com 12 anos e jogou durante duas temporadas no Barcelona B até que, na temporada 2002–03, estreou na equipe principal sob o comando de Louis van Gaal, em partida contra o Brugge pela Champions League com 18 anos.

Na temporada 2004–05 se firmou no elenco principal, tendo muita importância na conquista da Campeonato Espanhol.

Em 2006, o Barcelona venceu a Champions League foi titular durante grande parte da competição, contudo surpreendentemente começou a final no banco e entrou no intervalo na vitória de virada por 2×1 diante do Arsenal.

Iniesta utilizava a camisa número 24, porém com a saída de Giuly para a Roma, herdou a camisa número 8 em 2007.

Em 13 de agosto de 2008, Pep Guardiola faz seu primeiro jogo e estreou com vitória. Dali em diante, Iniesta foi peça fundamental para o início de uma nova era do futebol, a era de Guardiola no Barça.

A revolução que Pep Guardiola causou no Barcelona é considerada uma das transformações mais significativas na história do futebol moderno. Implementou uma filosofia de jogo baseada na posse de bola, movimentação constante e pressão alta, revolucionando o estilo de jogo do clube e influenciando o futebol em nível global.

Sua abordagem se baseava no “tiki-taka”, uma estratégia que valorizava o controle da bola por meio de passes curtos e rápidos, com os jogadores constantemente se reposicionando para criar linhas de passe e manter a posse.

Já na temporada 2008/09, o Barcelona conquistou o Triplete, sendo campeão do Espanhol, da Copa do Rei e da Champions League. Em maio de 2009, Andrés Iniesta marcou um golaço nos acréscimos no estádio Stamford Bridge contra o Chelsea, pela semifinal da Champions League, levando o time espanhol para disputar a final contra o Manchester United. Iniesta armou o gol de Eto’o que abriu o placar da vitória por 2 a 0 do Barça, completando a primeira Tríplice Coroa da história do clube.

Em dezembro de 2009, o Barça venceu o Estudiantes por 2×1 na final e fechou o ano como Campeão do Mundo.

Venceu o Campeonato Espanhol também nas temporadas  de 2009/10 e 2010/11. Em 2011, conquistou sua terceira Champions League, novamente contra o Manchester United. Na final, o ataque composto por Pedro, Messi e David Villa brilhou, com cada um fazendo um gol na vitória por 3×1.  Contudo, o meio de campo com Iniesta, Xavi e Busquets era a chave da equipe.

Em dezembro de 2011, o Barcelona aplicou uma goleada devastadora sobre o Santos de Neymar na final do Mundial de Clubes, vencendo por 4×0.

Em 2012/13, Iniesta venceu o Campeonato Espanhol, mas foi na temporada 2014/15 que o Barcelona voltou a ter desempenho mágico. O famoso ataque formado por Neymar, Messi e Suárez, municiado pela elegância de Iniesta e Sergio Busquets. O Barcelona venceu pela segunda vez a Tríplice Coroa, com La Liga, Copa do Rei e Champions League.

Na Champions League de 2014/15, Iniesta fez uma jogada antológica nas quartas de final diante do PSG. Driblou quatro defensores e em seguida, deu passe açucarado para Neymar abrir o placar. A partida terminou 2 a 0 para os catalães, resultado suficiente para colocar o Barça na semifinal da competição.

Na final, vencida por 3×1 contra a Juventus, Iniesta foi autor do passe para o primeiro, marcado por Rakitić, além de ser eleito o melhor jogador da partida.

“Estou sem palavras. É espetacular voltar a ganhar três títulos numa temporada”, comemorou Iniesta, exaltando a conquista da ‘tríplice coroa’.

Em dezembro, o Barcelona venceu o River Plate na final do Mundial de Clubes por 3×0 e foi campeão novamente.

Um momento icônico na carreira de Iniesta foi quando foi aplaudido em pleno Santiago Bernabéu. O meia fez uma grande partida, marcou um golaço de fora da área e deu uma assistência para Neymar na goleada por 4×0 contra o Real Madrid pela 12ª rodada do Campeonato Espanhol de 2015/2016. Quando foi substituído, os torcedores Merengues se levantaram e aplaudiram o craque.

Na Champions League de 2016/17, Iniesta foi peça fundamental na virada histórica do Barcelona diante do PSG pelas oitavas de final. Os franceses venceram o confronto de ida por 4×0 e o Barça conseguiu reverter o placar, vencendo por 6×1 no Camp Nou. Iniesta marcou o segundo gol em uma linda jogada individual.

O meia também venceu os Campeonatos Espanhóis de 2015/16 e 2017/18.

Em 2018, Iniesta fez seu último jogo com a camisa do Barcelona, na vitória sobre a Real Sociedad por 1×0, foi ovacionado no Camp Nou e encerrou seu ciclo de 22 anos no Barcelona.

Iniesta encerrou sua passagem pelo Barcelona com 674 jogos 57 gols e 121 assistências, deixou um legado incontestável, sendo um dos maiores jogadores da história do clube catalão. 

Foto: BARCELONA FC

Iniesta venceu 32 títulos com a camisa do Barcelona em 16 temporadas, uma incrível média de duas conquistas por ano:

• Espanhol: 2004/2005, 2005/2006, 2008/2009, 2009/2010, 2010/2011, 2012/2013, 2014/2015, 2015/2016 e 2017/18
• Copa do Rei: 2008/2009, 2011/2012, 2014/2015, 2015/2016, 2016/2017 e 2017/2018
• Supercopa da Espanha: 2005, 2006, 2009, 2010, 2011, 2013 e 2016
• Liga dos Campeões: 2005/2006, 2008/2009, 2010/2011 e 2014/2015
• Supercopa da Europa: 2009, 2011 e 2015
• Mundial de Clubes: 2009, 2011 e 2015

Passagem pelo Vissel Kobe do Japão

Em 2018, Iniesta acertou sua ida ao Vissel Kobe para um contrato de 3 anos, contudo permaneceu no clube por 6 temporadas e fez história no Japão. O meia espanhol foi tratado como uma verdadeira estrela no Japão, sua presença não só atraiu os olhares do mundo para a J-League, mas também elevou o patamar do futebol japonês, tanto em termos de visibilidade quanto de qualidade técnica.

Em campo, Iniesta demonstrou a mesma classe que o consagrou na Europa, com sua habilidade de passe, visão de jogo e controle de bola, mesmo jogando em um ritmo diferente do que estava acostumado.

Conseguiu resultados históricos pelo Vissel Kobe. Em 2019, o clube conquistou a Copa do Imperador, seu primeiro título importante, com Iniesta sendo um dos principais destaques da campanha. No ano seguinte, venceu a Supercopa do Japão, consolidando ainda mais a influência de Iniesta no time. Além dos títulos, ele também ajudou o Vissel Kobe a alcançar as semifinais da Liga dos Campeões da AFC, um feito inédito para o clube.

Em sua última temporada, teve menos minutos que anteriormente, anunciou em entrevista coletiva que não continuaria no Vissel Koke devido à falta de espaço na equipe nos últimos meses.

“Quero continuar jogando futebol, me sinto com capacidade para isso. Encerrando esta etapa, veremos as opções que surgirem. Gostaria de encerrar minha carreira jogando e quero tentar isso. Essa parte está sendo complicada aqui”, disse Iniesta.

Em seis temporadas pelo Vissel Kobe, o meia espanhol atuou em 133 partidas, marcou 26 gols e distribuiu 25 assistências.

Em agosto de 2023, partiu para seu último desafio como jogador de futebol. Assinou com o Emirates Club, dos Emirados Árabes Unidos, onde permaneceu por ano, até anunciar sua aposentadoria dos gramados.

Iniesta na Seleção Espanhola

Iniesta viveu e foi protagonista da fase mais gloriosa da história da Seleção Espanhola. Seu caminho com a Espanha vem desde muito jovem, pois o meia foi titular e destaque das seleções de base espanholas que ganharam tanto a Eurocopa sub-16 como a Eurocopa Sub-19. Além de ser eleito para “Equipe das Estrelas” da Copa do Mundo juvenil da FIFA nos Emirados Árabes Unidos em 2003, quando a Espanha foi derrotada por 1×0 na final diante do Brasil.

Na seleção principal, Iniesta estreou no amistoso contra a Rússia em maio de 2006, quando saiu do banco de reservas para entrar no lugar de Marcos Senna. A partida terminou empatada em 0x0.

Na Copa de 2006, a Espanha teve uma campanha tímida e foi eliminada nas oitavas de final pela França. Iniesta jogou apenas 1 partida, sendo titular na vitória contra a Arábia Saudita por 1×0 na fase de grupos.

Na Eurocopa de 2008, se dava início a nova era no futebol de seleções, que seria dominada pela Espanha. La Fúria fechou a fase de grupos com 100% de aproveitamento, vencendo Rússia, Suécia e Grécia.

Nas quartas de final, empatou em 0x0 com a Itália e levou a melhor nos pênaltis com grande atuação de Casillas.

Na semifinal, a Rússia era o adversário novamente e a Espanha dominou completamente o jogo e venceu por 3×0 com tranquilidade. Iniesta foi eleito o melhor jogador da semifinal.

Na grande final, a Espanha enfrentou a Alemanha e teve uma grande atuação mais uma vez. O jogo dos espanhóis passava pelo controle da bola através do meio campo, que era composto por de Xavi, Iniesta e Marcos Senna.

A Espanha venceu por 1×0 e o gol da vitória foi marcado por Fernando Torres com passe de Xavi. Com essa conquista, a Espanha terminou com um jejum que durava 44 anos e viria muito mais por aí.

Foto: Reprodução/Twitter @EURO2024

Em 2010, a base da Seleção Espanhola era a equipe estrelada do Barcelona comandada por Guardiola. Muitos fundamentos foram replicados e Iniesta, ao lado de Xavi e David Villa foram os jogadores mais importantes da primeira e única conquista de Copa do Mundo pela Espanha.

Na Copa de 2010, a Espanha estreou com derrota para a Suíça por 1×0, em sequência venceu Honduras e Chile e se classificou para a fase seguinte.

Nas oitavas de final, Espanha e Portugal se enfrentaram em uma partida com poucas chances. Até que Iniesta fez grande jogada, tocou para Villa que precisou de duas chances para marcar o gol solitário da partida, que garantiu a classificação para as quartas de final.

O Paraguai foi o adversário das quartas de final e teve a chance de abrir o placar, mas Óscar Cardozo perdeu o pênalti. Em seguida, Xabi Alonso converteu sua cobrança de pênalti, mas o árbitro pediu que repetisse, pois houve invasão, assim Xabi Alonso parou no goleiro Villar.

Nos minutos finais, Iniesta tocou para Pedro, que acertou a trave e David Villa fez o gol no rebote para chegar na semifinal pela segunda vez em sua história.

A Alemanha, que havia sido derrotada pela Espanha na final da Eurocopa de 2008 era a adversária da semifinal da Copa do Mundo de 2010.

A Espanha venceu a Alemanha com o gol icônico de Puyol, subindo alto e cabeceando para o fundo das redes.

Na grande final, a Espanha enfrentou a Holanda em um confronto sensacional. Após o empate sem gols, a partida foi para a prorrogação, onde Robben teve uma chance de ouro, ficando cara a cara com o goleiro, mas parou na defesa histórica de Casillas.

Aos 116 minutos, Iniesta recebeu passe de Fàbregas dentro da área, dominou e bateu para marcar o gol mais importante de sua carreira e da Espanha. Após o gol, Iniesta tirou a camisa e homenageou seu amigo Dani Jarque, companheiro de seleção espanhola de base. 

Dani Jarque morreu em agosto de 2009, vítima de um ataque cardíaco.

A Espanha conquistou o mundo pela primeira vez e Iniesta foi um dos grandes pilares da equipe. Em 2010, Iniesta ficou em segundo lugar na Bola de Ouro, ficando apenas atrás de Messi.

Em 2012, a afirmação de que a Espanha era a melhor seleção do mundo veio com a goleada acachapante na final da Eurocopa.

Na fase de grupos, La Roja venceu Croácia e Irlanda, além de empatar com a Itália.

Nas quartas de final, venceu a França por 2×0 e Portugal nos pênaltis na semifinal.

Na grande final, um atropelo contra a Itália. A Espanha dominou todo o jogo através de seu toque de bola envolvente e venceu por 4×0. Iniesta foi eleito o melhor jogador da Eurocopa, fechar o ano vencendo o prêmio de Jogador do Ano da UEFA, além de terminar em terceiro lugar na disputa do bola de ouro, atrás de Messi e Cristiano Ronaldo.

Foto: Agência Getty Images

Iniesta ainda participou das Copas do Mundo de 2014 e 2018, porém a Espanha teve desempenhos frustrantes, nem passando da primeira fase em 2014 e caindo nos pênaltis para a Rússia em 2018 nas oitavas de final.

Após a eliminação para a Rússia, Iniesta se despediu da Seleção Espanhola.

Iniesta encerrou sua linda carreira, deixando um grande legado no futebol. Um jogador que, com elegância e simplicidade, alcançou a grandeza e ajudou a moldar o que o futebol representa no século XXI. Ao lado de Guardiola, foi um dos principais nomes do estilo de jogo “tiki taka”, que mudou a maneira como o futebol era visto e jogado.