A magia que traz paz, ainda que por um hiato
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O Santos Futebol Clube de Pelé era capaz de coisas inimagináveis dentro de campo, mas em determinadas situações, esta magia pôde transcender as 4 linhas. Foi o que aconteceu no ano de 1969, na Nigéria.
Contexto histórico
O continente africano, sobretudo a partir do século XIX, passou a ser objeto de disputa entre as potências da época.
Neste sentido, na Conferência de Berlin (1884-1885), sob a tutela do Chanceler alemão Otto von Bismarck, foram estabelecidos os limites entre os países para a exploração imperialista da África. Logo, o território extremamente extenso que abrigava, e ainda abriga, uma vasta heterogeneidade de povos e etnias se viu recortado.
Em diversas oportunidades, estas etnias, muitas vezes rivais, foram obrigadas a viver em um mesmo território.
Já em meados do século XX, com a decadência das potências europeias enfraquecidas pela Segunda Guerra Mundial, começaram a surgir os movimentos de independência dos países africanos. Neste caso, a Nigéria conseguiu sua independência em 1960 e com ela, diversas disputas territoriais eclodiram.
Assim, em território nigeriano estavam as etnias ibo e hausa. Os ibo, parte da elite local, eram originários da região de Biafra, rica em petróleo. Após sucessivas trocas de poder, os hausa tomam aplicam um golpe de Estado e passam a exterminar o povo ibo, que por sua vez tenta se refugiar na região de Biafra e buscar sua independência em relação à Nigéria.
Desta maneira, nasce em 1967 a Guerra Civil Nigeriana ou Guerra de Biafra. O confronto perdurou até 1970 e estima-se que mais de um milhão de pessoas perderam a vida neste terrível episódio da história.
O Santos de Pelé e suas excursões
Apesar de times históricos dos anos 60, é quase que unanime que o Santos de Pelé foi o melhor e mais espetacular time da época, um dos maiores da história.
No período, o Santos foi hexa campeão Brasileiro e bicampeão da Copa Libertadores e Mundial, mas estes números poderiam ser mais relevantes.
Durante os anos 60, os times brasileiros tinham as competições estaduais como seu foco principal. Nela, disputavam com seus rivais diretos o posto de melhor time do estado. Ainda, a locomoção num país de dimensões continentais e ainda com infraestrutura precária era complicada.
O Santos, por exemplo, se recusou a jogar a Libertadores em 3 oportunidades apenas durante os anos 60. A razão está na logística complicada para disputar o torneio, sem contar a violência extrema (chutes, pontapés e até mordidas sofridas pelos santistas) e arbitragens duvidosas, para dizer o mínimo.
Entretanto, todas as moedas tem dois lados. As recusas para disputar a Libertadores fizeram com que o Santos fizesse excursões por todo o mundo. Nelas, o Santos e seu astro supremo, Pelé, ganhavam notoriedade por todo o globo.
Segundo o portal Acervo Santos F.C, o Santos em toda sua história visitou 72 países, cobrindo todos os continentes do planeta. Logo, o Santos de Pelé se tornou o time mais conhecido do mundo na época.
O Santos e a Guerra de Biafra
Em 1969, a guerra iniciada em 1967 já se arrastava por dois anos, deixando mortes, destruição e miséria.
Anteriormente, no mesmo ano, o Santos já havia visitado o território nigeriano, numa região distinta. A população, cansada e indignada com a guerra, sobretudo na região da cidade de Benin, altamente afetada pelo embate, requereu ao governo que o Santos e Pelé retornassem à Nigéria. Assim foi feito.
Contudo, havia temor por parte das autoridades que o Rei do Futebol e seu esquadrão adentrassem uma área de conflito armado, logo foi instaurado o cessar-fogo.
Em 4 de fevereiro de 1969, o Santos entrou em campo com Pelé e companhia e aplicou 2×1 sobre a Seleção do Centro-Oeste da Nigéria., com gols dos craques Edu e Toninho Guerreiro.
Ainda que por um breve momento, em meio ao cenário mais devastador imaginável, o povo da região pôde esquecer o que se passava fora do estádio de Ogbe. Mesmo que por 90 minutos, a magia do futebol, do Santos e de Pelé fizeram com que a paz se instaurasse em volta do espetáculo. Ali, o Santos desfilou com a paz em seu uniforme branco.
Curiosamente, os atletas santistas não tinham conhecimento do que estava acontecendo e souberam que se tratava de uma guerra civil apenas quando chegaram à Nigéria.
O desfecho
Logo, o Santos deixou a Nigéria e a guerra, infelizmente, perdurou por mais um ano, deixando as consequências ora mencionadas.
Este texto não tenta tornar lúdico o que se passou naquele período na Nigéria, apenas tenta demonstrar a capacidade que o futebol tem de proporcionar eventos históricos e estando muitas vezes atrelado com a política. Desta vez, ele serviu para apaziguar, acalmar e cessar-fogo.
Os feitos do Santos de Pelé são lembrados até o hoje pela torcida da peixe em músicas cantadas nos estádios.
GRCES Torcida Jovem do Santos FC
“O meu Santos é sensacional
Só o Santos parou a guerra
Com Rei Pelé Bi Mundial, o maior time da Terra
É meu amor, primeiro amor, eterno amor, Santos
É meu amor, primeiro amor, eterno amor, Santos”
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Escrito por Vitor F L Miller.