Árbitras na Itália: a primeira foi Grazia Pinna

Por Marta Elena Casanova

Siga-nos nas redes sociais para se manter atualizado sobre as últimas notícias do mercadoInstagramFacebook e X.

No mundo do futebol italiano, dominado por décadas por vozes masculinas, apitos e ternos cinzas, uma mulher quebrou o silêncio em 1979. Seu nome é Grazia Pinna, e ela foi a primeira mulher a apitar uma partida oficial de futebol na Itália. Uma virada histórica, talvez pouco lembrada, mas que marcou o início de uma mudança profunda no cenário da arbitragem nacional.

Quem é Grazia Pinna e por que ela foi tão importante

Nascida na Sardenha, Grazia Pinna tinha uma paixão pelo futebol que ia além dos papéis tradicionalmente atribuídos às mulheres na época. Em um período em que até brincar com uma bola era visto como “pouco feminino”, ela sonhava com o campo por outra perspectiva: a do apito. Após um percurso difícil, ela conseguiu a habilitação para arbitrar partidas oficiais. Sua estreia foi em 1979, entre olhares de desconfiança e ironia, mas com a mesma autoridade e preparo de seus colegas homens.

Sua estreia não foi apenas simbólica: Grazia provou que uma mulher podia conduzir uma partida com firmeza, competência e imparcialidade, exatamente como um homem. Apesar das dificuldades — desde cantos ofensivos até desprezo explícito —, ela nunca desistiu. Com seu apito, não iniciou apenas um jogo, mas uma nova página na história da arbitragem italiana.

A evolução das mulheres árbitras na AIA: números e presença nos campeonatos

Depois de Grazia, o caminho não foi fácil nem rápido. Por muitos anos, a presença feminina entre os árbitros filiados à AIA (Associação Italiana de Árbitros) permaneceu marginal. Com o tempo, no entanto, e com as mudanças sociais, mais mulheres decidiram seguir essa trajetória.

Nos anos 1990, o número de mulheres árbitras começou a crescer, ajudado também pelo aumento da visibilidade do futebol feminino. A verdadeira virada, porém, veio nos anos 2000, quando a AIA iniciou campanhas específicas de recrutamento e incentivou a inclusão.

De acordo com dados atualizados da AIA de 2024, existem mais de 2.000 mulheres árbitras registradas, entre cerca de 33.000 membros, com um crescimento constante a cada ano. Embora a porcentagem ainda seja modesta (cerca de 6%), é um salto notável em comparação com décadas anteriores.

Mulheres árbitras hoje: presença nas grandes ligas e cargos de liderança

Hoje, as mulheres árbitras não estão mais limitadas às divisões juvenis ou regionais. Maria Sole Ferrieri Caputi, por exemplo, entrou para a história como a primeira mulher a apitar uma partida da Série A masculina, em 2022. Um marco que ecoa o gesto de Grazia Pinna e traz ainda mais visibilidade às árbitras.

Ao mesmo tempo, cresce também o número de mulheres em posições de liderança dentro da AIA, mostrando que competência não tem gênero. As seções locais promovem cursos e ações para combater estereótipos e barreiras culturais, especialmente em cidades menores.

O futuro ainda está sendo escrito (e apitado)

A história de Grazia Pinna é um lembrete poderoso: todo progresso começa com um ato de coragem. Se hoje vemos mulheres apitando finais importantes, é também graças a quem, como ela, ousou quando ninguém mais ousava.

A AIA hoje olha para o futuro com mais consciência: formar, apoiar e valorizar as árbitras é essencial não apenas para a equidade, mas também para a qualidade e a representatividade da arbitragem italiana. O apito de Grazia, embora distante no tempo, ainda ressoa toda vez que uma jovem entra em campo com o uniforme preto, pronta para ser ouvida.

Por Marta Elena Casanova

Artigos Mais Recentes
Tags: Árbitros, Mulheres e Futebol

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.